A mecanização da cana-de-açúcar é um processo relativamente recente, que se intensificou na última década, no Brasil, com a substituição da colheita manual pela colheita mecânica. Diferentemente da cultura da soja, em que há muito tempo predominam máquinas robustas, com plataforma de colheita de até 13 metros de largura, as máquinas disponíveis no mercado voltadas para o setor canavieiro apresentam uma largura de corte entre 1,5 metro e três metros. Diante da necessidade de uma evolução tecnológica, o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) está desenvolvendo o Projeto de Mecanização do Manejo da Cana-de- Açúcar com Baixo Impacto. Em parceria com a Jacto, fabricante paulista de máquinas agrícolas, os pesquisadores criaram uma colhedora de grande porte. “Esse projeto vai trazer muitos ganhos para os produtores”, diz o diretor do CTBE, Carlos Alberto Labate. “É uma oportunidade para o setor sucroalcooleiro aumentar suas margens, num momento em que o etanol precisa ganhar competitividade.”

Com uma largura de corte de nove metros, a nova tecnologia promoverá uma redução dos custos de operação de maquinário superior a 15%, porque haverá um menor consumo de combustível e maior rapidez na colheita, já que a máquina é capaz de colher uma área até seis vezes maior se comparada com a colhedora convencional. No entanto, segundo o professor  Oscar Antonio Braunbeck, coordenador da divisão de Produção de Biomassa do CTBE, a grande vantagem será a redução da compactação do solo. “A cada entrelinha do plantio, a máquina deixa a marca de suas rodas”, diz Braunbeck. “É um tráfego intenso; então cerca de 60% do solo é pisoteado pela colheitadeira.”

Segundo o pesquisador, a compactação cairá de 60% para menos de 13% da área plantada. Com isso, ele acredita que a produtividade da lavoura, atualmente em torno de 80 toneladas de cana por hectare ao ano, pode avançar até 20%. “O solo menos compactado tem condições de produzir mais”, afirma. Outra vantagem é que o equipamento faz um corte mais preciso da cana, sem arrancar sua raiz. “É um processo de colheita novo, que não agride a planta”, diz o professor. Com isso, a vida útil do canavial de colheita mecânica, que é de cerca de quatro anos, pode avançar para seis anos. 

A partir deste mês, o protótipo começa a ser desenhado para adquirir mais uma característica: ser capaz de colher a palha da cana. Antes, o resíduo era simplesmente abandonado ou queimado no canavial, mas passou a ter valor como fonte de geração de energia elétrica a partir da biomassa. Mesmo com a valorização, a palha ainda permanece no campo, o que gera um gasto adicional com o transporte desse produto. No entanto, com a nova tecnologia, isso vai mudar. “A máquina vai realizar a colheita dos colmos e da palha da cana ao mesmo tempo”, diz Braunbeck. No interior da máquina, a palha – que é mais leve – será separada dos colmos automaticamente. Em seguida, ela será picada para reduzir a densidade total da carga e tanto o colmo quanto a palha da cana serão transportados simultaneamente no interior do veículo. 

Segundo Labate, até agora o projeto recebeu investimentos de R$ 14 milhões. A previsão é de que a colheitadeira esteja pronta para ser comercializada pela Jacto em 2018. Mas a iniciativa do CTBE não vai parar por aí. Os pesquisadores também estão desenvolvendo um sistema de plantio para a cana e uma plataforma colhedora “avulsa”, que poderá ser acoplada a qualquer trator. “Não é todo agricultor que pode pagar R$ 1 milhão por uma colheitadeira”, diz Labate. “Estamos desenvolvendo equipamentos menores, que possam atender o pequeno e médio produtor.”