Com uma sigla gigante, o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) também surpreende pelo volume de crédito à agricultura e pecuária concedido em menos de três anos safras. Se tudo seguir como o planejado, em julho deste ano o Plano ABC deve superar a casa dos R$ 5 bilhões em financiamentos. “A demanda por crédito está indo além das nossas expectativas”, diz Caio Rocha, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura (Mapa).

Criado em junho de 2012, o plano deve encerrar o terceiro ano safra 2012/2013 – de junho de um ano a julho do outro – com a concessão de 100% do recurso de R$ 3,4 bilhões anunciado pela presidenta Dilma Rousseff. Será a primeira vez que isso acontece desde que o plano foi lançado. De julho a novembro de 2012, cerca de R$ 1,5 bilhão foi cedido, o que representa crescimento de 580% ante os R$ 500 milhões do período anterior. Para Rocha, o crescimento mostra que o plano está se consolidando e caindo no gosto dos agropecuaristas. “Como o programa está ficando mais conhecido, a procura tem aumentado”, afirma.

Eduardo Biagi, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e dono de um rebanho de 27 mil bovinos em Barra do Garças, em Mato Grosso, realizou seu primeiro financiamento pelo Plano ABC em outubro do ano passado. Biagi vai usar R$ 2 milhões para recuperar 1,6 mil hectares de pastos. Pelas regras do programa, cada pessoa física pode ter acesso a até R$ 1 milhão. Mas, depois de entender o funcionamento correto do plano, o pecuarista conseguiu ampliar a captação de crédito para investir em sua propriedade. “Consegui duas linhas de financiamento para a fazenda porque não entrei sozinho com o pedido de crédito”, diz Biagi. Para ele, atualmente, o grande gargalo na tomada de crédito é a falta de orientação ao pecuarista, já que nos bancos não há gente suficiente para atender todo o setor.

Essa demanda já chegou aos ouvidos de Rocha, no Mapa, por intermédio de uma pesquisa realizada nos bancos e entidades que apoiam o plano ABC. “Desde novembro, pedimos aos nossos parceiros que realizem uma pesquisa junto aos fazendeiros para entendermos as dificuldades de acessar o plano”, diz Rocha. Com essa pesquisa, o Mapa está colocando no campo seis mil técnicos capacitados, que auxiliarão os agropecuaristas na tomada de decisão. Outra mudança no Plano ABC para esta safra foi a queda para 5% na taxa de juros. No ano safra 2011/2012 a taxa era de 5,5%, e na anterior chegava a 6,2%. Enquanto a taxa de juros caía, o montante de crédito disponível e captado por ano safra crescia. No primeiro ano, o governo alocou R$ 2 bilhões, dos quais foram captados R$ 418 milhões. Em 2011, o valor subiu para R$ 3,1 bilhões, sendo que somente R$ 1,2 bilhão foi emprestado.

Dos sete programas que compõem o Plano ABC, a maior demanda tem sido para a recuperação de áreas de pastagens degradadas, seguida pelos projetos de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e para o Sistema de Plantio Direto. “Somente de pastos degradados, a meta do programa é recuperar 15 milhões de hectares, até 2015”, diz Rocha. Na safra 2010/2011 foram recuperados 150 mil hectares. Na safra seguinte, 500 mil hectares. “Nossa expectativa para a atual safra é fechar o período com o dobro de área recuperada.”