Neste mês, a Lidio Carraro, uma pequena e pouco conhecida vinícola gaúcha, de Bento Gonçalves, dará o pontapé inicial numa missão que recebeu da Fifa: fornecer o vinho oficial da Copa do Mundo de 2014. Durante a Copa das Confederações, disputada entre 15 e 30 de junho em seis Estados, o primeiro rótulo – o Faces Tinto, produzido especialmente para o megaevento esportivo – será apresentado aos brasileiros, que vão conhecer sua composição, desenvolvida em segredo desde o final do ano passado. “Só podemos dizer que é um vinho jovem e alegre, com uma base diferente de uvas, e de consumo versátil”, diz a enóloga e diretora técnica da vinícola, Monica Rossetti. “Tem uma expressão aromática intensa, com agradável frescor de boca.”

Com uma área de sete hectares ocupada por videiras no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e outros 36 hectares em Encruzilhada do Sul, a Lidio Carraro colheu 360 mil quilos de mais de dez tipos de uvas em 2012, entre eles as variedades cabernet sauvignon, merlot, tempranillo e malbec. Para Monica, o diferencial da vinícola é justamente essa diversidade de uvas e flexibilidade para explorar a matéria-prima. “Temos uma produção horizontal”, diz. “Variamos muito o estilo de bebida, mas mantemos o alto padrão de qualidade em todas as nossas linhas.” O Faces levará algumas variedades da vinícola, mas a empresa precisou firmar parcerias com dez vinicultores da Serra Gaúcha e do sul do Estado para dar conta do projeto. “Antes, a gente vendia 30% das nossas uvas. Com a linha Faces, estamos absorvendo toda a nossa produção e ainda compramos uvas de produtores locais”, afirma. Além disso, segundo Monica, a parceria teve como objetivo atender ao conceito da bebida. “O vinho trará o conceito da diversidade brasileira, o que explica o nome Faces”, diz. “Buscamos as melhores uvas e trabalhamos para criar uma identidade que represente bem o País.”

De agora em diante, a rotina da pequena vinícola decididamente não será a mesma. Em 2012, a Lidio Carraro produziu cerca de 300 mil garrafas, de 25 diferentes rótulos de vinho, que variam entre R$ 35 e R$ 268. Com a escolha da Fifa, a vinícola espera mais que dobrar a produção e o faturamento deve crescer, de R$ 3 milhões, em 2012, para R$ 5,5 milhões. “Apostamos muito nesse projeto”, diz o diretor-comercial Juliano Carraro. “Mesmo após a Copa, vamos manter a linha Faces.” Já estão estocadas 60 mil unidades do vinho tinto e 40 mil garrafas do Faces Branco, da safra 2012, que passarão a ser vendidas, a partir de julho, por cerca de R$ 34 cada uma. “É um vinho premium, mas reduzimos custos com a maior escala de produção e nos esforçamos para ter um preço acessível”, diz.

Para atender o evento em 2014, um volume correspondente a outras 500 mil garrafas está em fase de produção e, em novembro, o último rótulo da linha será lançado, o Faces Rosé. Segundo Carraro, a empresa, que exporta 30% de sua produção e vinha crescendo a uma média de 20% ao ano, investiu R$ 800 mil na duplicação da capacidade instalada, em 2011. “Nossa meta é expandir a área de cultivo de uva para 200 hectares e produzir 1,2 milhão de garrafas até 2020”, diz.

Não é a primeira vez que a vinícola familiar, encabeçada pelo casal Lidio e Isabel e tocada pelos filhos Patrícia, Giovanni e Juliano, é credenciada num evento esportivo de porte. Em 2007, a vinícola produziu o vinho oficial dos jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro. Já em 2010, a Lidio Carraro forneceu bebidas para o 30º aniversário da Stock Car. Segundo a diretora de marketing Patrícia, essa experiência pesou a favor da empresa, mas agora o desafio é muito maior. “Até então, a gente só trabalhava com restaurantes e lojas especializadas”, diz Patrícia, para quem 2014 será uma oportunidade única para promover o vinho brasileiro aqui e lá fora. “Com a Copa, vamos chegar a supermercados e ficar conhecidos pelo grande público.”