Mais do que em mandatos anteriores, o clima de disputa das eleições presidenciais 2014 tem contaminado o campo. Pressionado pela necessidade de mudanças de toda ordem, o produtor rural vem se manifestando, reivindicando abertamente melhorias para o setor, que vão da infraestrutura logística às reformas jurídicas e tributárias, passando pela necessidade de mais pesquisa e de uma melhor formação da mão de obra. “Há um clima de insatisfação generalizada no campo, porque o Brasil necessita de reformas para continuar na estrada do crescimento”, diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas, apoiador declarado do candidato Aécio Neves, do PSDB.

Rodrigues tem sido uma das lideranças mais ativas na formatação de propostas do agronegócio às candidatas Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) e a Aécio. Foi de sua sala na FGV, em São Paulo – que se tornou nos últimos tempos uma espécie de muro das lamentações rural –, que partiu a ideia de um documento que tem circulado nos eventos do agronegócio desde agosto, batizado de Agronegócio Brasileiro 2014-2022/ Proposta de Plano de Ação aos Presidenciáveis. A elaboração do documento assinado por cerca de 40 entidades rurais foi coordenada por Elísio Contini, pesquisador e chefe da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa. “A ideia nestes meses que antecederam as eleições do primeiro turno foi debater temas centrais, cujas políticas  públicas são determinantes para o agronegócio”, diz Contini. 

Para Rafael Abrão Possik Júnior, produtor de cana-de-açúcar, gado e arroz irrigado, da fazenda Ramalhete, em Rio Brilhante, em Mato Grosso do Sul, uma questão crucial no País é a demarcação de terras indígenas. “A bola da vez é garantir a legitimidade da propriedade e cair fora do problema de demarcação de terras, em função da questão indígena ou quilombola”, diz Possik Júnior. “Isso tem trazido muita instabilidade no campo.” 

Possik Júnior fala com propriedade sobre o tema. Nos últimos três anos, o Estado tem presenciado disputas envolvendo questões indígenas relacionadas aos povos Guarani Kaiowá, deslocados de suas terras, entre as décadas de 1910 e 1970, pelo próprio governo federal. Os indígenas querem as terras de volta, mas boa parte delas está ocupada por fazendas altamente produtivas, nas mãos de agricultores há muitas décadas. 

Ainda em questões relacionadas ao uso da terra, o que aflige a pecuarista Marize Porto Costa, proprietária da fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), é a falta de um serviço de extensão rural mais ativo. “As pesquisas e os seus impactos na produção precisam chegar com mais rapidez ao produtor e de forma generalizada”, diz Marize. “A extensão rural, por exemplo, funciona muito bem no Paraná, mas é sofrível em Goiás.” Marize, além de integrar o Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), é dona de uma fazenda que se tornou referência de propriedade verde, ao servir de laboratório para que o pesquisador da Embrapa João Kluthcouski desenvolvesse uma metodologia de implantação de Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (ILPF), batizada de Sistema Santa Brígida. 

Nas questões macroeconômicas, as opiniões se dividem. Há quem defenda os avanços dos governos petistas nos últimos 12 anos. E também há quem fique com o pé lá atrás, buscando argumentos que justifiquem a alternância de poder, com a eleição de Marina Silva ou Aécio Neves, o candidato preferido pela maior parte das lideranças do agronegócio. O senador e produtor rural Blairo Maggi, do grupo Amaggi, dono de uma das maiores fortunas de Mato Grosso, simpático à reeleição de Dilma, diz que são inegáveis os benefícios com os quais o setor contou nos últimos anos. “Os juros no campo foram de cerca de 2,4%, isso significou investimento a custo muito baixo”, diz Maggi. “Além disso, as obras de infraestrutura avançam e estamos muito próximos de uma mudança estratégica definitiva para o Norte, no transporte de grãos.”

Para o CEO da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, de fato os benefícios ao campo aconteceram. “As safras têm sido boas e estamos conseguindo resultados significativos dentro da porteira, mas não basta”, diz Pavinato. De acordo com Pavinato, para produzir com tranquilidade é preciso olhar a macroeconomia e confiar nela, mas atualmente isso está difícil. “Há muitas incertezas sobre política externa, câmbio e, principalmente, sobre o controle da inflação”, afirma. O grupo gaúcho, dono de 16 fazendas, nas quais cultiva 340 mil hectares de algodão, soja e milho, faturou R$ 1,2 bilhão no ano passado. 

Jacyr Costa Filho, diretor da Divisão de Cana-de-Açúcar do Grupo Tereos, vai na mesma direção. Segundo ele, um dos pontos mais importantes para o setor seria a sinalização clara de políticas do governo federal que gerassem um ambiente de competitividade no mercado. A gigante francesa acaba de investir R$ 1 bilhão para aumentar a capacidade de moagem de cana-de-açúcar de suas usinas, dos atuais 18 milhões de toneladas para 20 milhões de toneladas por ano. “Melhorar as relações de mercado é fundamental para o agronegócio”, diz Costa Filho. “Os acordos comerciais, principalmente com a Ásia, a União Europeia e os Estados Unidos, também seriam muito bem-vindos.”