A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu alerta os pecuaristas de todo o país para vacinarem 100% dos seus rebanhos na campanha oficial de vacinação contra a febre aftosa, programada para o mês de novembro.

“A imagem da pecuária brasileira nunca esteve tão positiva no cenário internacional. Reabrimos o mercado chinês e abrimos o mercado norte-americano, o maior do mundo. Não podemos correr o risco de ter um caso de aftosa por descuido, desinformação ou procedimentos indevidos no momento da vacinação”, ressalta Luiz Claudio Paranhos, presidente da ABCZ. “Acima de tudo, o custo de uma dose de vacina é muito baixo em relação ao benefício que ela proporciona”, complementa Paranhos.

O alerta do presidente da ABCZ também envolve a qualidade da vacina e o preparo dos funcionários das fazendas na hora da aplicação. “A reação vacinal é uma questão séria e merece profunda reflexão de toda a cadeia da carne bovina. Também considero clara a responsabilidade da indústria de saúde animal em relação à qualidade das vacinas comercializadas. E os pecuaristas precisam ficar atentos a isso na hora de se preparar para a imunização contra a febre aftosa, orientando corretamente os funcionários da fazenda. Além disso, os laboratórios também precisam estar comprometidos com o treinamento de boas práticas nas fazendas”.

A afirmação de Paranhos está respaldada por estudos recentes que constataram um imenso prejuízo para a cadeia da carne bovina com as reações vacinais ou medicamentosas em bovinos.

Em momentos distintos, profissionais de instituições de ensino de Botucatu (Unesp) e Ourinhos (FIO) e da Unesp em parceria com a Acrimat concluíram praticamente o mesmo: os abcessos causados por problemas ligados à qualidade das vacinas e ao método de aplicação – especialmente contra a febre aftosa – pesam, e muito, no bolso dos produtores e da indústria frigorífica.

O trabalho dos pesquisadores da Unesp e da FIO concluiu que nada menos do que 500 mil toneladas de carne podem deixar de ser comercializadas por ano devido à “depreciação de cortes na desossa decorrentes da retirada de lesões vacinais ou medicamentosas”. O trabalho foi realizado com 376 carcaças do centro-oeste paulista, das quais 308 (81,91%) apresentaram lesões, com perda média de 0,38kg por carcaça.

Outro trabalho recente, realizado pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e a Unesp de Botucatu, foi ainda mais contundente nas conclusões sobre as perdas de reações vacinais nos bovinos. “O resultado da reação vacinal alcançou o valor máximo de 6,5 kg por animal, considerando 1,65% de lesões em relação ao peso vivo e pré-jejum”, concluiu o estudo. Em valores da época (2013), foram identificadas perdas de até R$ 50,00 por animal devido às reações vacinais – a arroba do boi gordo estava em R$ 115,00 naquele momento. Extrapolando para o atual patamar da cotação da arroba, os prejuízos com o uso de vacinas de má qualidade ou procedimentos inadequados no momento da aplicação podem superar R$ 60,00 por animal.

“Não podemos admitir que o maior exportador mundial de carne bovina e um dos maiores produtores ainda tenha esse tipo de problema causado pela qualidade da vacina, conservação ou manuseio. Está aí um desafio a ser superado o mais rápido possível com a participação de todos os envolvidos. Afinal, o interesse é comum. Enquanto isso, os pecuaristas e a indústria estão pagando essa conta”, ressalta Luiz Claudio Paranhos. Fonte: Ascom