São Paulo, 11 – A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) disse que pode rever a Moratória da Soja na Amazônia se associações de produtores e governo se juntarem às tradings para negociar com compradores no exterior, disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar. Ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, ele afirmou que a medida depende também de o País poder comprovar o controle do desmatamento ilegal. A Moratória tem sido questionada por produtores no Brasil. Na quinta-feira, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz Pereira, confirmou que a associação questionará o programa no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

“É possível, sim, rever a moratória”, afirmou Nassar. Segundo ele, tradings que estão no Brasil, associações de produtores e governo têm de negociar com os compradores da soja brasileira. “As associações de produtores têm de estar no mesmo barco, mas a opção delas foi pelo conflito. Nós temos que olhar o produtor, claro, a gente trabalha para o produtor, mas também temos que olhar o nosso consumidor, não podemos fazer de conta que ele não existe”, afirmou. Segundo o representante da Abiove, é preciso deixar claro para os importadores que o desmatamento ilegal ficará totalmente fora da cadeia de soja. “As associações de produtores deveriam estar conosco cobrando do governo uma forma de identificação do desmatamento legal e segregação do ilegal. Tem o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que já está aí. Sistema para fazer isso tem.”

Nassar contou que a Abiove aguarda uma notificação sobre um possível recurso dos produtores junto ao Cade para se posicionar. “Fiquei sabendo dessa intenção por declarações públicas do presidente da Aprosoja Brasil”, afirmou. Para o representante da Abiove, o argumento de que a moratória não passa de uma tentativa comercial de reduzir preços ao produtor “não se sustenta”. Segundo ele, a moratória foi criada para atender à demanda de clientes no exterior. “Como no Brasil o setor privado não tem uma ferramenta para identificar o que é desmatamento legal e ilegal e nem o Estado identifica e embarga produtores oficialmente por estar desmatando ilegalmente, a nossa resposta lá atrás (na criação da moratória) foi de que no Bioma Amazônico não compramos mais de área aberta depois de 2008”, afirmou. “Conseguimos caracterizar que a moratória foi criada para proteger o mercado da soja, sobretudo o mercado europeu, que é quem compra 50% do farelo de soja que a gente exporta. A Europa é muito importante para o nosso produto industrializado.”

Segundo Nassar, a Abiove já vinha alertando compradores no exterior que produtores têm questionado “com muita veemência” a moratória da soja e que a política “precisa ser repensada”. Ele assinalou que, se os órgãos de fiscalização garantirem que produtor cumpre o Código Florestal e que, se desmata, é com autorização de supressão, é possível pedir aos clientes externos que paguem um prêmio aos agricultores se quiserem de fato desmatamento zero (nem legal nem ilegal). “A gente quer que nosso importador valorize o produtor brasileiro, reconheça que ele tem reserva legal, que as emissões da produção de soja no Brasil são 30% menores do que a soja norte-americana”, disse Nassar. “Para criar essa valorização, a gente precisa ter o controle correto do que tem de conversão de área para a soja ilegal. Preciso garantir para o meu cliente que não há soja com desmatamento ilegal entrando na cadeia.”