A Abrasem (Associação Brasileira de Sementes e Mudas) promoverá no dia 10 de outubro, quinta-feira, em Chapadão do Sul (MS), uma palestra com o entomologista José Magid Waquil sobre as boas práticas de manejo nas lavouras de milho Bt, o milho geneticamente modificado resistente a pragas, que possibilita a racionalização do uso de defensivos e a proteção do
potencial de rendimento da lavoura.

O encontro, marcado para as 19h no KI Buffet, localizado na Rua Brasil, bairro Parque União, será o segundo promovido pela entidade no Estado de Mato Grosso do Sul, que figura no ranking nacional como o terceiro maior produtor de milho do país. No último dia 26, cerca de 50 agricultores de Dourados e cidades vizinhas já foram conscientizados sobre a importância do manejo da resistência de insetos para evitar o processo de seleção de insetos-praga resistentes às toxinas produzidas pelas plantas geneticamente modificadas e preservar a eficiência e o potencial da tecnologia Bt, evitando prejuízos à lavoura.

As palestras fazem parte da campanha nacional de conscientização iniciada pela Abrasem no mês de julho, que já orientou agricultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Depois de Mato Grosso do Sul, serão realizados encontros nos Estados de Mato Grosso e Goiás. Além das palestras, a campanha conta com anúncios nos veículos de comunicação especializados no setor e distribuição de material explicativo. O site do projeto (www.boaspraticasogm.com.br) é outra importante ferramenta da ação, trazendo todas as informações necessárias para o produtor, incluindo dados técnicos, além de artigos e a programação de palestras.

Coordenada pela Associação Paulista dos Produtores de Sementes (APPS), a campanha é resultado de um grupo de trabalho da Abrasem, com a participação de técnicos das empresas produtoras de sementes, e conta com o apoio da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Preservação da tecnologia. O milho Bt é obtido por meio da transformação genética de plantas de milho com genes da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), fazendo com que a planta produza proteínas tóxicas para algumas espécies de insetos. A tecnologia, criada em 1997 nos Estados Unidos, espalhou-se rapidamente devido a sua eficiência e há pouco mais de cinco anos é utilizada no Brasil, representando atualmente cerca de 80% das sementes de milho comercializadas no país.

Mesmo com a produção contínua das toxinas ao longo do ciclo, as plantas Bt podem não controlar todas as pragas existentes, pois na população dessas podem existir indivíduos naturalmente resistentes. Daí a importância do manejo da resistência de insetos (MRI).

José Américo Pierre Rodrigues, superintendente executivo da Abrasem, explica que investindo ao mesmo tempo no plantio de refúgio (plantio de áreas de milho não Bt adjacentes à plantação de milho Bt) e em outras práticas como a dessecação antecipada seguida de inseticida, controle de plantas daninhas,  tratamento de sementes, monitoramento seguido de inseticida e rotação de culturas, o produtor conseguirá garantir a longevidade da tecnologia.

Na opinião dos pesquisadores, a melhor maneira de evitar o desenvolvimento de populações de insetos resistentes ao milho Bt é combinar lavouras de milho Bt com áreas plantadas com híbridos sem a tecnologia Bt. Dessa forma, os poucos possíveis insetos resistentes que sobreviverem na lavoura Bt irão cruzar com insetos suscetíveis presentes na lavoura de milho não Bt.
Algumas possibilidades de “desenho” da lavoura, utilizando refúgio, estão disponíveis no site da campanha.

O consultor José Magid Waquil, contratado para comandar as palestras, considera a  campanha de conscientização fundamental para a preservação de uma tecnologia de grande valia para a agricultura nacional.  ³O produtor precisa entender que a capacidade da ciência não é infinita e que ele precisa fazer a parte dele², resume.

Waquil acrescenta que a receptividade nos encontros tem sido excelente. ³Os agricultores têm se mostrado interessados em aprender e em executar as medidas preventivas. O primeiro encontro no Mato Grosso do Sul foi bastante promissor e acreditamos que em Chapadão do Sul a receptividade também será muito boa², afirma.

Cássio Camargo, diretor executivo da APPS, comemora os bons resultados que vêm sendo obtidos com a campanha em todo o país e explica que, além de exigir uma quantidade muito menor de pulverizações, o milho Bt tem maior produtividade, tornando-se muito mais rentável.  ³Precisamos preservar a qualidade dessa tecnologia, que é muito valiosa para a agricultura
nacional, por isso estamos apostando na conscientização dos produtores², resume.

As boas práticas de manejo da resistência de insetos:

1 – Adoção de áreas de refúgio ­ O plantio e a manutenção das áreas de refúgio representam o principal componente do plano de Manejo Integrado da Resistência (MIR) das culturas Bt. O objetivo do refúgio é manter uma população de insetos-praga-alvo da tecnologia Bt sem exposição à proteína Bt.

2 – Dessecação antecipada seguida de inseticida ­ As culturas antecessoras, assim como as plantas daninhas e voluntárias presentes no ambiente, podem hospedar as principais pragas que  tacam a cultura do milho na fase inicial, influenciando a espécie predominante e a pressão inicial das pragas. Assim, no sistema de plantio direto, a pressão de pragas na fase inicial da cultura pode ser maior quando comparada ao sistema de plantio convencional.

3 – Controle de plantas daninhas ­ Algumas plantas daninhas podem hospedar insetos-praga das culturas subsequentes, permitindo que uma quantidade significativa sobreviva nas áreas de cultivo no período da entressafra. Além disso, ervas daninhas podem ser fontes de lagartas em ínstares mais avançados, as quais apresentam maior dificuldade de controle pela tecnologia
Bt.

4 – Tratamento de sementes ­ O Tratamento de Sementes (TS) é uma prática que visa o controle de pragas subterrâneas e iniciais da cultura, período de grande suscetibilidade às pragas. Os danos causados por essas pragas resultam em falhas na lavoura devido ao ataque às sementes após a semeadura, danos às raízes após a germinação e à parte aérea das plantas recém-emergidas.

5 – Monitoramento seguido de inseticida ­ O monitoramento é fundamental. A partir dele, toma-se a decisão de realizar ou não uma aplicação complementar de inseticida na lavoura. 

6 – Rotação de culturas ­ A rotação de culturas consiste em alternar o plantio de diferentes espécies de culturas na mesma área agrícola. Com ela, o produtor melhora as propriedades físico- uímicas do solo e reduz a população inicial de alguns insetos-praga da cultura.