Há pelo menos duas décadas, cientistas do mundo todo vêm alertando a humanidade sobre as possíveis alterações climáticas no planeta causadas pela emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Em abril deste ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) finalmente levantou a bandeira vermelha: o limite de dióxido de carbono concentrado na atmosfera foi recorde, atingindo 400 partes por milhão, nível jamais registrado pelo órgão. Segundo a ONU, o principal vilão desse descontrole são os combustíveis fósseis. Mas, se depender da escola de samba Unidos de Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro, o dióxido de carbono emitido no desfile deste ano não contribuirá para o aumento dessa estatística.

Depois de levar para a avenida Marquês de Sapucaí a história da agricultura e do produtor rural brasileiro, a escola campeã do Carnaval carioca de 2013 e seus parceiros, a Basf e a Fundação Espaço Eco, criada pela empresa alemã, vão plantar sete mil mudas de árvores. A ideia é compensar as cerca de mil toneladas de gases emitidos desde 2012 com a confecção das fantasias e dos carros alegóricos, além das atividades nos barracões e do translado de carnavalescos. De acordo com Maurício Russomanno, vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, esse volume de dióxido de carbono corresponde às emissões provocadas por 20 voltas ao redor do planeta por um caminhão de 14 toneladas. “Ou 930 viagens de ida e volta, também de caminhão, entre São Paulo e Rio de Janeiro”, diz.

O plantio das mudas será feito na fazenda de um parceiro da Fundação Espaço Eco. A área escolhida fica na fazenda Santa Irene, que pertence à Fundação Abílio Alves Marques, em Bebedouro, no interior de São Paulo. Em 4,2 hectares, a partir do próximo mês, serão plantadas 80 espécies de árvores do bioma Mata Atlântica. “Com o estudo das emissões, ainda propomos à Unidos de Vila Isabel melhorias para que o Carnaval de 2014 seja ainda mais sustentável”, diz Russomanno. Ele sugere a troca do diesel por biodiesel nos geradores de energia da quadra, do barracão e dos carros alegóricos. Isso pode reduzir em 9% as emissões. Segundo Roberto Araújo, presidente da Fundação Espaço Eco, se, além disso, os materiais utilizados na confecção de adereços e alegorias forem substituídos, a redução pode chegar a 19%. “A China, de onde vem parte da matéria-prima utilizada, tem como principais fontes de energia o carvão e o gás”, diz. “Caso os produtos sejam brasileiros, a fonte passa a ser de energias limpas, como são os recursos hídricos, a biomassa e o etanol.”