Passados dois dias da assinatura do acordo que criou o Tratado de Livre Comércio Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês), lideranças brasileiras do agronegócio começam a se manifestar a respeito de possíveis impactos dessa medida para o setor. Com o TPP, no qual estão os Estados Unidos, a Austrália, o Canadá, o Japão, a Nova Zelândia, o Chile, a Malásia, o México, o Peru, o Vietnã, o Brunei e Cingapura, foi criado nesta segunda, 5, o maior bloco global para o comércio de produtos, equivalente a cerca de 40% do PIB mundial.  Os 12 países, com uma população de 800 milhões de consumidores, devem responder por um movimento de US$ 223 bilhões, a partir de 2025. “Estamos isolados como uma ilha, mais uma vez”, afirma Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Conhece aquele ditado: boi lerdo bebe água suja? Talvez, nem dessa água suja vamos beber.”

De acordo com Turra, mesmo que as tarifas alfandegárias entre os países do TPP venham a ser zeradas, ou apenas realinhadas para baixo dentro de alguns anos, o exercício, na prática, começa imediatamente. “Evidentemente que as nossas exportações podem ser afetadas”, diz Turra. “Os países do bloco darão preferência para os seus parceiros, e vão nos pressionar.”

No ano passado, o agronegócio brasileiro exportou para os países que compõem o TPP um total de US$ 15,2 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). O valor é 35% superior a 2010, quando as exportações somaram R$ 11,2 bilhões. A lista de produtos vem de cerca de 25 setores do agronegócio, entre eles os do complexo soja, açúcar, proteína animal, produtos florestais, café, algodão, lácteos, pescados, fumo, bebidas, ração animal, frutas, couros e peles, frutas.

Dessa lista de produtos vendidos no Exterior, as alterações nas tarifas dos países que compõem o TPP podem, de fato, incomodar o Brasil.  Em mercados importantes, como os Estados Unidos e Japão, o País pode perder a corrida dos preços competitivos, uma bandeira que sempre serviu à expansão das exportações nacionais. Entre os países do TPP, há tarifas que chegam a 50%, como é o caso da carne bovina consumida pelos japoneses, e que deve ser zerada, e de até 40% para o frango exportado pelos americanos.  Não por acaso, os produtores americanos comemoram o tratado, juntamente com o Canadá, um grande exportador de alimentos processados, e a Austrália, uma grande produtora de carne bovina e de açúcar.

Mas, para Aurélio Pavinatto, CEO da SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de commodities do País, principalmente algodão e soja, a primeira leitura desse acordo ainda está sendo feita e pode não ser tão ameaçadora para o Brasil. “Independentemente da fórmula do acordo, no setor agrícola é preciso levar em conta a produção dos países que integram o TPP”, diz o executivo. “No longo prazo, acredito que esses países não venderão mais, porque eles não possuem a capacidade de aumentar suas as produções muito além do atual patamar.” Para ele, está aí um espaço no qual o Brasil agir, principalmente visando os mercados asiáticos.

Somente com a China, maior destino das commodities agrícolas brasileiras, em 2014, a receita foi de US$ 22 bilhões, o dobro do valor de 2010.  Apenas do complexo soja foram U$ 17 bilhões no ano passado. “Precisamos de acordos comerciais para fidelizar mercados como este”, diz Pavinatto.  Turra também concorda com o executivo, mas é preciso ir além. “O Brasil deve, urgentemente, incluir a União Europeia em suas prioridades, e costurar um acordo comercial consistente, que faça frente ao TPP”, diz. “E informar aos parceiros do Mercosul que eles podem nos seguir.” 

Turra se refere à Argentina, país que tem colocado empecilhos no caminho de um acordo Mercosul-UE, enquanto o Paraguai e o Uruguai estão mais alinhados ao Brasil. Um tratado com o bloco europeu traria ao País a possibilidade de produzir agregando mais valor às exportações, de intensificar o intercâmbio de especialistas que atuam no agronegócio, e principalmente, de estar mais próximo das tecnologias de ponta.