No último debate antes das eleições 2020, candidatos à Prefeitura de São Paulo trocaram acusações de propagação de fake news. Em meio a críticas à gestão do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição, os candidatos apresentaram suas propostas e fizeram ofensas mútuas durante o programa, transmitido na quinta-feira, 12, à noite pela TV Cultura.

Foi o segundo debate organizado por um canal de TV na campanha deste ano. Devido à pandemia do novo coronavírus, as emissoras argumentaram que não poderiam fazer o evento respeitando as regras sanitárias.

Houve ao menos quatro citações a fake news ao longo do debate. Uma delas, no meio de uma discussão entre os candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Celso Russomanno (Republicanos). Eles apareceram tecnicamente empatados na última pesquisa de intenção de votos feita pelo Ibope na segunda-feira. Boulos tem 13% e Russomanno, 12%. A margem de erro é de três pontos porcentuais.

O candidato do Republicanos voltou a citar um vídeo feito por Oswaldo Eustáquio, um ativista bolsonarista que já foi alvo da Polícia Federal nos inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) contra fake news e atos antidemocráticos. O vídeo diz que Boulos usa empresas fantasmas em sua campanha. A Justiça Eleitoral considerou o vídeo como “inverídico” e mandou tirá-lo do ar.

Boulos respondeu que as duas empresas existem e lembrou a investigação contra Eustáquio. “Você quer trazer o gabinete do ódio para São Paulo. É isso que você quer fazer”, disse, em referência ao nome do grupo acusado de propagar fake news contra inimigos do presidente Jair Bolsonaro.

Na réplica, Russomanno afirmou que “desqualificar a fonte não diminui a acusação”. Na sequência, Boulos fez uma dobradinha com Jilmar Tatto (PT) para criticar as notícias falsas.

Boulos também acusou Arthur do Val (Patriotas) de espalhar fake news. Do Val perguntou o concorrente sobre ter incendiado um prédio e responder a um processo judicial por invasão. “Você agora está se vendendo como ‘boulinhos paz e amor’, precisamos lembrar que até outro dia estava botando fogo em prédio”, disse Do Val. Boulos pediu “compostura” do colega e negou qualquer relação com as acusações.

O mesmo ocorreu com Covas, que acusou o candidato do Patriota de inventar informações sobre o risco de fechamento de comércios durante a pandemia. Do Val sugeriu que uma nova onda de interdições estaria a caminho. “O senhor deve saber que São Paulo tem índices cada vez melhores no que diz respeito à pandemia”, afirmou o tucano.

Líder nas pesquisas, Covas foi um dos alvos principais dos concorrentes na primeira metade do programa. Alguns candidatos, como Tatto, Márcio França (PSB) e Joice Hasselmann (PSL), usaram até as perguntas destinadas a outros oponentes para criticar a atual gestão Prefeitura.

“Passei na região do Minhocão e vi moradores em situação de rua, sem iluminação, e nós estamos falando do bairro do prefeito”, disse o candidato do PT, em uma pergunta que deveria ser endereçada a Hasselmann, que embarcou na crítica.

“Todos sabem da dificuldade do PSDB com os servidores públicos, tem sido muito injusto esse tratamento deles, os servidores públicos sofreram tanto”, disse França, numa dobradinha com Tatto. “Eles se sentem desanimados.”

Música

Covas também citou fake news ao debater com Joice Hasselmann. O prefeito disse que sua concorrente teve até que lhe ceder um direito de resposta na propaganda de TV por ter feito afirmações consideradas incorretas pela Justiça Eleitoral. Quando teve a palavra de novo no programa, Joice cantou uma música que fazia parte do anúncio na TV que gerou o direito de resposta. O jingle tinha críticas ao aumento do IPTU.

Jilmar Tatto e Celso Russomanno

Celso Russomanno citou nomes que saíram do PT para outras legendas e perguntou a Jilmar Tatto se o candidato não tinha medo de perder o apoio do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para Guilherme Boulos. “O perdedor aqui é você”, rebateu Tatto.

O petista disse que Russomanno se enganou ao acreditar que o presidente da República, Jair Bolsonaro, o elegeria como prefeito em São Paulo. Guilherme Boulos e Arthur do Val comemoraram a resposta de Tatto.

Acusação contra o vice de Covas

Joice Hasselmann questionou o atual prefeito sobre o vereador Ricardo Nunes (MDB), vice na chapa de Covas, por suposto superfaturamento em aluguel de creches. Nunes nega favorecimento. O tucano afirmou que o vice não responde a nenhum processo.

Arthur do Val responde ‘Mamãe Faltei’

Como no debate realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Celso Russomanno voltou a chamar Arthur do Val, cujo canal no YouTube é chamado “Mamãe Falei”, de “Mamãe Faltei”.

Segundo o candidato do Republicanos, o deputado estadual seria conhecido por faltar constantemente na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Russomanno também perguntou como um candidato que “defende a maconha” quer governar a cidade.

Do Val levantou as fichas de presença na Alesp e disse que tem 97% de assiduidade, enquanto o deputado federal tem 58 faltas na Câmara.

Propostas para saúde

Apesar do debate ter sido pouco propositivo, alguns candidatos conseguiram apresentar propostas para saúde, um dos tema de maior interesse do eleitor neste pleito.

Questionado sobre se a eventual vacina contra covid-19 deveria ser obrigatória, Covas disse que, enquanto for prefeito, essa questão será definida por órgão de saúde.

Boulos afirmou que, se for eleito, reabrirá hospitais fechados e parcialmente fechados, colocará as Unidades Básicas de Saúde (UBS) para funcionar até as 22 horas e aos finais de semana e abrirá concursos públicos para contratação de mais médicos nas periferias.

Andrea Matarazzo (PSD) citou proposta similar, de estender o horário de funcionamento da Assistência Médica Ambulatorial (AMA).

Orlando Silva (PCdoB) disse que é fundamental que São Paulo tenha médicos da família, para focar os esforços da área em prevenção.

Propostas para educação

Questionado sobre a reabertura de escolas em meio à pandemia de covid-19, Russomanno afirmou que as “crianças não podem mais ficar nas ruas”.

Apontou que volta às aulas deve ser realizada respeitando recomendações do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O candidato também defendeu a realização de testes nos alunos.

Orlando Silva, em contrapartida, defendeu o retorno às aulas presenciais somente quando houver vacina contra o novo coronavírus. Inclusive, apontou a reabertura como um dos erros da gestão atual em lidar com a pandemia.