Embasada num plano de recuperação judicial, multinacional

brasileira sonha em recuperar suas abaladas finanças

No prédio da Agrenco, na imponente avenina Juscelino Kubitschek, zona sul da capital paulista, um entra-e-sai de executivos marca a nova fase da empresa. Cenários e planos de negócios tentam mapear como serão realizados os pagamentos dos credores para tirar a companhia do buraco.

A idéia de vender a empresa continua em alta. Antes, porém, será necessário colocar toda a bagunça no lugar. Por isso, a multinacional optou por entrar com um plano de recuperação judicial, segundo o diretor de relações com investidores, Antonio Modesti, a pedido das próprias interessadas em arrematar a Agrenco. “Cometemos alguns equívocos e agora temos que arrumar a casa”, disse ele em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL.

O primeiro engano, segundo ele, foi a construção de três novas fábricas ao mesmo tempo. O segundo, na interpretação do executivo, o timing da abertura de capital. “Pegamos o mercado em baixa”, analisa. Outro problema, na opinião de Modesti, ocorreu com a operação da Polícia Federal que culminou com a prisão do principal controlador da Agrenco, Antonio Iafelice. “No ano passado, a Agrenco movimentou seis milhões de toneladas de soja e a Polícia Federal investiga, sem provar nada até agora, possíveis irregularidades, em 3.200 toneladas, ou seja, menos de 0.5% de nossas operações”, diz. Isso ocasionou uma corrida de credores para obter seus vencimentos e na saída de fornecedores que, temerosos em não receber, desviaram suas produções para outras tradings.

Além das questões propostas pelo executivo, a empresa errou em algumas previsões. Em seu pico mais elevado, a soja chegou a ser comercializada a US$ 16 o bushel, segundo cotações da Bolsa de Chicago, e a Agrenco não estava preparada para absorver esses aumentos de custos. A falta de crédito no mercado financeiro internacional também contribuiu para o agravamento da crise. “Tentamos uma linha de crédito de R$ 200 milhões, mas não conseguimos emprestar este dinheiro e tudo foi ficando mais complicado”, avalia Modesti. Para o diretor, o problema não estava no tamanho da dívida, mas, sim, no prazo. “Mais de 80% dos vencimentos ficaram muito próximos e não tivemos como honrar esses compromissos”, lamenta.

A boa notícia é que a empresa pretende sanar seus problemas em apenas seis meses. “Esse é o tempo que teremos com o cobertor da recuperação judicial para colocarmos nosso plano em ação”, avalia. Modesti conta que, nesse período, a empresa ainda possuirá estoques de produtos para vender e alguns ativos que devem ser desfeitos.

“Ainda operamos com 500 funcionários em nossa estrutura. Apesar da crise financeira, há muitas empresas com dinheiro em caixa que pretendem comprar a Agrenco”, revela. As principais candidatas são a francesa Louis Dreyfus, a chinesa Noble e a suíça Gleincore. “Assim que arrumarmos a casa, provavelmente a empresa será vendida, porém, em melhores condições”, analisa.