Eu quero dizer para vocês que é uma imensa alegria assistir àquela quantidade de soja jorrando pela colheitadeira, conseguir pegá-la, jogar para cima e provar, também, um grão de soja.” Foi com essa frase, dita logo após a foto acima ser feita, que a presidenta Dilma Rousseff comemorou o início da colheita da soja da safra 2013/2014. Em visita à cidade mato-grossense de Lucas do Rio Verde, no dia 11 de fevereiro, ela não economizou elogios aos bons resultados do agronegócio. O entusiasmo da presidenta, que já está em pré-campanha eleitoral, tem seus motivos: ela poderá anunciar, dentro de alguns meses, que o Brasil teve a maior safra agrícola de todos os tempos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção brasileira de culturas como soja, milho, trigo, arroz, feijão e algodão chegará a 193,6 milhões de toneladas. Embora menor do que o previsto inicialmente, o volume é 3,6% superior ao da safra colhida no ano passado. “O número exato ainda pode subir quando formos a campo, em março, para saber o que já foi colhido e como está o plantio da safrinha”, disse o president da Conab, Rubens dos Santos.

A boa estrela de Dilma no campo faz com que até fenômenos adversos se tornem pontos positivos: é o caso da seca atípica desta época do ano no Centro-Oeste, que, embora deva influenciar negativamente o plantio da segunda safra do milho, acabou facilitando a colheita da soja. A produção nacional deve bater novo recorde da oleaginosa, com 90 milhões de toneladas, 10,4% mais do que no ano passado, ultrapassando a dos EUA, até aqui o maior produtor do mundo. Os bons resultados da agricultura também foram mencionados por Dilma no programa de radio Café com a presidenta. “O Brasil vai alcançar este ano a liderança mundial na produção de soja, mostrando a força da agricultura brasileira”, comemorou no dia 17, lembrando que o volume de recursos para financiamento vem crescendo, assim como a produtividade nas lavouras.

A única cultura que terá uma colheita menor neste ano é o milho. A área plantada foi reduzida em 5%, especialmente em Mato Grosso. No ano passado, a produção brasileira havia aumentado, para suprir o espaço deixado pela quebra na produção dos Estados Unidos. Agora, o preço menor desestimulou os produtores, que podem usar parte da área dedicada ao grão para o plantio de algodão.

Como aconteceu nos últimos anos, a agropecuária deve novamente crescer mais do que a média, puxando a economia. Neste ano, porém, os preços internacionais não devem ajudar tanto a balança comercial – embora o setor agrícola seja o responsável pelo superávit que o País registrou nos últimos anos. “Os preços das commodities estão menores, mas ainda estão remunerando o produtor”, afirma o economist Artur Manoel Passos, do Banco Itaú. Lucilio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, diz que a rentabilidade do setor diminuiu, especialmente a do milho, mas soja e trigo ainda estão com preços suficientes para remunerar o produtor.

Uma safra maior também traz seus desafios. O maior deles é a dificuldade de escoamento em direção ao porto. No ano passado, congestionamentos quilométricos se formaram nas estradas que ligam o Centro-Oeste aos terminais marítimos do Sudeste. Desta vez, o governo está empenhado em evitar que a boa notícia da safra recorde se torne novamente a má notícia sobre a deficiente infraestrutura logística brasileira.

O presidente da Conab diz que a previsão de aumento de 3,6% da safra de grãos deste ano ainda pode ser melhorada.

Qual é a sua avaliação para a safra deste ano?
Talvez não se confirme aquela previsão inicial, de 200 milhões de toneladas. Mas, no próximo ano, com certeza chegaremos a essa marca. A previsão agora é 193,6 milhões de toneladas, um aumento de 3,6%. Mas ainda pode melhorar. Com o aumento da produtividade, teremos 8,5 milhões de toneladas a mais de soja. A seca na época da colheita ajudou, ao contrário do ano passado, quando houve chuvas intensas no período. Por outro lado, a falta de chuva prejudicou o plantio do milho. Recuperamos o feijão, que no ano passado foi muito ruim. O clima também ajudou a safra de arroz.

As previsões são de que a seca vai prejudicar a safrinha do milho.
Nossos levantamentos de fevereiro mostram que havia uma tendência de não plantar milho na safrinha. Por isso, a previsão foi ajustada. Mas, se seca continuar, o produtor de Mato Grosso tem a opção de plantar algodão. Com isso, a área plantada de algodão deve aumentar 22%.

Como estão os preços?
O milho caiu em relação ao ano passado, quando teve quebra nos Estados Unidos, mas já houve uma recomposição parcial desde o início da colheita. Os preços de soja continuam atraentes para os produtores. Ainda há uma demanda muito grande por produtos agrícolas.

Neste ano, que é um ano eleitoral, como vai ser a contribuição do campo para o PIB?
O campo tem puxado o PIB há algum tempo. Isso vai continuar neste ano, já que a produção deve aumentar pelo menos 3,6%, e a previsão para o PIB é de um crescimento de 2,5%.

Como está a construção dos silos?
Temos dois programas. Além do financiamento de R$ 5 bilhões com recursos do BNDES para armazéns privados, a Conab vai construer dez armazéns públicos e reformar e modernizar 84 já existentes. Já fizemos a licitação das empresas para os projetos e, em 90 dias, devemos ter a contratação. Nossa capacidade estática vai aumentar de 2 milhões de toneladas para 2,85 milhões de toneladas. No entanto, pelo menos um terço desse volume precisa de reformas para ser utilizado totalmente.

O Brasil perde espaço na exportação de milho, com a recuperação da produção americana?
No ano passado, exportamos 26 milhões de toneladas. Neste ano a previsão é de 18 milhões de toneladas. É o mercado. Os chineses é que vão dizer se vão comprar ou não.