O produtor está acostumado a investir em sementes, defensivos e maquinário, entre outros detalhes que garantem o sucesso da safra. Mas há uma questão que ainda é deixada de lado: os recursos hídricos. Como alertam os ambientalistas, a água não terá disponibilidade infinita, daí a crescente preocupação com o manejo correto desse recurso por parte de especialistas. um deles é o engenheiro agrícola gaúcho Samuel Beskow, 31 anos, professor da universidade Federal de Pelotas, que deu um passo importante na área científica ao desenvolver um modelo de simulação hidrológica, batizado de lavras Simulation hydrology (lash).

Trata-se de um software que faz uso de informações de temperatura, velocidade do vento, precipitação e dados sobre o relevo e o solo, entre outros. a partir do cruzamento desses dados, o programa faz uma simulação quantitativa dos recursos hídricos disponíveis numa bacia hidrográfica em diferentes períodos de tempo, de previsões diárias a anuais. “o programa permite identificar o comportamento de um curso d’água e prever o volume disponível durante as cheias e estiagens”, diz Beskow. Trocando em miúdos, com o uso do programa, o agricultor terá acesso a informações sobre a água disponível para melhor planejar o seu uso numa propriedade rural.

Segundo o pesquisador, os grandes rios brasileiros são monitorados pela agência nacional de Águas (ana), principalmente para gerar dados voltados ao setor de energia elétrica. Mas existem inúmeras bacias de pequeno porte em áreas agrícolas que são praticamente desconhecidas. “a ideia do projeto foi desenvolver uma tecnologia mais acessível, para simular o comportamento de rios de pequenas bacias e favorecer o agronegócio”, afirma Beskow. “Com o programa, o produtor ou pecuarista poderá identificar o melhor local para construir um reservatório de água ou implementar uma nova cultura, por exemplo.”

O trabalho vem sendo desenvolvido por Beskow desde 2008, quando preparava sua tese de doutorado na área de hidrologia e simulação hidrológica pela universidade Federal de lavras, em Minas Gerais, e pela Purdue university, no estado de indiana, nos EUA. Agora, no pós-doutorado pela universidade Federal de Pelotas, com a ajuda de uma equipe de pesquisadores dessas instituições, Beskow está trabalhando numa segunda versão do software e deverá entrar com pedido de patente nos próximos meses. A versão aprimorada do programa, que posteriormente será lançada ao mercado, também será capaz de estimar a erosão do solo e o transporte de sedimentos. no fim de julho, o trabalho foi vencedor na categoria juventude da 58a edição do Prêmio Fundação Bunge, que teve como tema recursos hídricos e agricultura.