Austrália, Nova Zelândia, África, Europa, Canadá e Estados Unidos. Em todos eles, nos últimos cinco anos a seca em algum momento preocupou os produtores. Pesquisas mundiais apontam que, embora a quantidade de água no mundo seja a mesma, cada dia chove menos onde mais se precisa de água para plantar. Um estudo do Instituto Internacional de Gerenciamento de Água (IWMI, sigla em inglês) mostra que, a partir de 2030, serão necessários mais 2 mil km3 de água por dia para alimentar a população mundial. O número é 25% além do que é utilizado atualmente. Em valores atuais, 70% da água captada no mundo é destinada à irrigação. O problema é que muitos países estão com escassez de água. Não à toa, a principal linha de pesquisa das multinacionais do agronegócio é para desenvolver plantas resistentes ao estresse hídrico. A Monsanto colocou como prioridade o desenvolvimento de sementes com essas características. Hugh Grant, CEO mundial, já avisou: “Essas variedades salvarão o mundo da fome”. Da mesma forma, a Pionner, uma das principais concorrentes, já lançou linhagens de milho que necessitam de muito menos água para produzir.

No Brasil, em contrapartida, toda a tecnologia de produção caminha no sentido de aliar tudo o que há disponível no mercado. “O ideal é unirmos o uso de sementes menos exigentes à água com a utilização de irrigação onde for possível”, destaca o consultor José Vicente Ferraz, da AgroFNP. Segundo ele, o Brasil não pode abrir mão de nenhuma das tecnologias. “A irrigação é importante por permitir a produção o ano todo e as novas sementes diminuem o impacto de eventuais secas”, diz. “São coisas diferentes.”

Se por um lado o Brasil engatinha nas questões de sementes resistentes à seca, nenhuma aprovada no País, por outro as tecnologias de irrigação vão bem. Segundo dados do IWMI, a classificação brasileira é de “pouca ou nenhuma escassez” de água. “Temos uma situação privilegiada, 18% da água doce do mundo está aqui”, diz Eduardo Carrari, gerente da superintendência de planejamento de recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA). Além disso, o Brasil tem em seu território 2/3 do Aqüífero Guarani, o maior manancial de água doce subterrâneo do mundo, com reservas de 48 mil km3. Apesar deste cenário, o Brasil tem apenas quatro milhões de hectares irrigáveis, dos 29 milhões possíveis, situação que pode evoluir em breve.

O Ministério da Integração (MI) está para lançar o edital da primeira parceria público- privada (PPP) com o objetivo de terminar alguns “perímetros de irrigação”, projetos governamentais já iniciados, mas que estão com as obras paradas. O primeiro “perímetro” da lista é o Pontal, que fica em Petrolina (PE). Na seqüência estão o Baixio do Irecê e o Salitre, ambos situados na Bahia, numa região em que o plantio predominante é de feijão, milho e mamona de sequeiro.

O bom uso dos recursos hídricos tem tudo para consolidar o Brasil como o celeiro do mundo, contudo, as boas práticas de produção predispõem ao uso racional da água, sem desperdício. Pensando nisso, a ANA implementou em 2001 a cobrança pelo uso de água na agricultura, que já é uma realidade na bacia do rio Paraíba do Sul e nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Na bacia do rio São Francisco, ela deve começar no ano que vem. “A cobrança é um valor simbólico, 20 vezes menor do que a aplicada na indústria”, diz Carrari. Todo o dinheiro arrecadado é revertido para a própria bacia, mas há alternativas para quem não quer pagar para irrigar, como relata Wilson Mancebo Gonçalves, presidente da Comissão de Irrigantes da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Segundo ele, no Estado é comum a construção de barramentos nos rios para conter a água da chuva. “Chove 1,5 mil milímetros por ano, mas a necessidade de água para a agricultura é de apenas 500 milímetros”, diz. No entanto, os agricultores precisam de capital para a construção das represas. “Um barramento para irrigar um pivô central varia de R$ 100 mil a R$ 2 milhões”, finaliza.