O Brasil vive a expectativa, pela primeira vez em sua história, de ultrapassar 200 milhões de toneladas de grão e fibras produzidos em uma única safra. A soja, que deve responder por 47% dessa produção, é a cultura mais atrativa para produtores e exportadores. De olho nesse mercado, o grupo mineiro Algar, com sede em Uberlândia, que atua nos segmentos de agronegócio, telecomunicação e turismo, está reestruturando justamente sua área agrícola para se tornar mais competitivo nesse segmento. O ousado objetivo da Algar é mais que dobrar o processamento de soja, saindo dos atuais 1,6 milhão de toneladas adquiridas de terceiros, para quatro milhões. Para isso, a companhia vai ter de ampliar sua expansão geográfica para além de Minas Gerais e o Maranhão, Estados nos quais faz a compra do grão. “Queremos ser uma empresa nacional, não apenas regional”, diz Luiz Alexandre Garcia, presidente do grupo. “Por isso, estamos reestruturando nossa área de agronegócio, pois as oportunidades são grandes.”


Novo comando: com grande experiência de mercado, Sant’Anna foi contratado para assumir a presidên-cia de agronegócio da empresa

A Algar faturou R$ 3,8 bilhões em 2013 (último balanço consolidado) para as três atividades do grupo. Com forte presença como compradora de grãos nas principais regiões produtoras de Minas Gerais, e com um trabalho em consolidação no Mapito, região formada pelos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, o agronegócio rendeu   R$ 1,8 bilhão ao grupo. Do total de grãos originados nessas duas re-giões, um milhão de toneladas da oleaginosa é processada na unidade de Porto Franco (MA) e 600 mil toneladas vão para a unidade em Uberlândia. A produção de óleo de soja, de 9,7 milhões litros por ano, fica no mercado interno, principalmente no Nordeste. Do total de 620 mil toneladas de farelo, 75 mil toneladas são exportadas para vários países, sendo os principais destinos a China e a Europa. Agora, o desafio da Algar Agro é fazer a originação de soja em regiões produtoras nas quais ainda não atua, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.  Segundo Garcia, ir para esses mercados significa acessar um volume anual de 70 milhões de toneladas do grão. “Toda essa produção não passava pela ótica da Algar”, afirma.

Para liderar a reestruturação da área agrícola, Garcia foi ao mercado em busca de um profissional experiente. O escolhido foi o engenheiro químico Murilo Braz Sant’Anna, que tem 35 anos de mercado, entre a Ceval Alimentos e a americana Bunge. Até 2020, Sant’Anna terá à sua disposição  R$ 100 milhões por ano para investir. Desde o final do ano passado, o executivo está contratando profissionais da área. “Precisamos das pessoas certas para fazer a empresa crescer”, diz ele. “O importante é o relacionamento com o mercado, mais do que investir em infraestrutura.”

Além de aumentar o esmagamento de soja para quatro milhões de toneladas nos próximos cinco anos, o executivo tem o desafio de inserir a Algar no mercado de milho. Segundo Sant’Anna, a tática é aproveitar o bom relacionamento já estabelecido com os seus cinco mil produtores da oleaginosa, para também comprar o cereal. O projeto é que, até 2020, a empresa acesse um mercado de um milhão de toneladas de milho, totalizando cinco milhões de toneladas de grãos processados por safra. “A meta é aproveitar as oportunidades disponíveis, já que os produtores cultivam os dois grãos”, diz Sant’Anna.

Para crescer, o relacionamento que a Algar cobiça no mercado é com os médios e pequenos agricultores.  Assim, a empresa não entra na briga direta com as tradings tradicionais na compra dos grãos, saindo da seara de gigantes como a ADM, Amaggi, Bunge, Cargill e Dreyfus. De acordo com Leonardo Sologuren, diretor da consultoria Clarivi, de Uberlândia, o posicionamento da Algar, em não optar pelos grandes produtores de soja, aponta que a briga no setor pela originação está acirrada. A disputa por esses produtores também envolve, por exemplo, as revendedoras agrícolas que utilizam a soja como uma ferramenta de troca. “É válida a estratégia da Algar, principalmente em regiões nas quais o cultivo da soja está em processo de consolidação”, diz Sologuren. “Mas não vai ser fácil, porque a corrida pela matéria prima torna esse mercado muito competitivo rapidamente.”