“Vivemos dois anos de terror. Não sabíamos de onde viriam as próximas ameaças. Mas agora podemos nos preocupar apenas com a agricultura.” A frase do agricultor Márcio Giordani Mattei, que mora no distrito de Santa Rosa de Monday, em Alto Paraná, no Paraguai, traduz o alívio vivido pelos brasiguaios desde o impeachment do presidente Fernando Lugo, em junho do ano passado, e a eleição de Horácio Cartes, no mês passado. Assim como Mattei, os cinco mil brasileiros que moram na cidade apoiaram a vitória de Cartes, que representa para eles a perspectiva de um ponto final ao conflito permanente entre brasileiros, proprietários de fazendas, e paraguaios, sem-terra. “Cartes nos trouxe paz e a certeza de que a relação Brasil e Paraguai será melhor”, diz Mattei, nascido no Paraguai, mas que exibe um forte sotaque gaúcho, como se tivesse nascido nos Pampas, a exemplo de seu pai Alcir Giordani, um minifundista que emigrou em 1976 e que hoje é dono de uma fazenda de 750 hectares.

O responsável pelo alívio dos brasileiros e também de uma parcela significativa da população do Paraguai, que almejava um homem de negócios no poder, Cartes, eleito com 45,9% dos votos, não é nenhum homem do povo, que sofreu com a pobreza ou algo do gênero. Antes de se tornar presidente, ele já era um dos homens mais poderosos do país. Milionário e dono de um conglomerado de 25 empresas que produzem  bebidas, cigarros, roupas e carnes, ele também comanda a equipe paraguaia de futebol, Club Libertad. Antes mesmo de tomar posse, o presidente eleito, uma figura controvertida, acusado de envolvimento em contrabando de cigarros e narcotráfico, prometeu aos brasiguaios que suas propriedades estavam asseguradas. “Vamos sentar e trabalhar com o Brasil, e não contra o Brasil”, disse Cartes.

Além de garantir a tranquilidade dos produtores brasileiros, Cartes também pretende atrair indústrias do agronegócio para o Paraguai, a fim de agregar valor às produções de soja, milho e carnes. “As indústrias brasileiras estão dando exatamente o remédio para a nossa enfermidade, a falta de emprego e de capacitação”, afirmou Cartes. Além disso, ele pretende implementar a retomada do assento do Paraguai no Mercosul, suspenso desde o impeachment de Lugo, há dez meses. Para o agronegócio, a eleição de Cartes pode significar um incremento no comércio bilateral, que é deficitário para o Brasil. No ano passado, as exportações brasileiras chegaram a U$ 546 milhões, contra importações de US$ 792 milhões.