Não é mais surpresa vermos notícias de que a moeda americana alcançou a maior cotação em relação ao real nos últimos 12 anos, chegando próximo a R$ 3,30.

E também é impossível saber qual será a cotação da moeda no momento em que você, caro leitor, estiver com esse artigo em mãos. A verdade é que a expectativa para o primeiro trimestre deste ano não é das mais otimistas: dólar valorizado, inflação em alta e PIB  negativo.

Baseado em grande parte nas exportações, o agronegócio é um dos setores mais impactados por essas variações na economia. A valorização do dólar pode repercutir de diversas formas no segmento. Por um lado, quando pensamos nas commodities, que têm um vasto mercado internacional e, por isso, grande parte de sua produção é para exportação, casos de café e soja, a desvalorização do real veio em boa hora, já que facilita a comercialização fora do Brasil. Nos últimos anos, os exportadores desses produtos  observaram uma ascensão nos preços, porém a enorme produção de soja nos Estados Unidos fez com que o valor das commodities caísse vertiginosamente. A alta da moeda americana pode compensar agora parte dessa diferença e permitir que, com o câmbio, as vendas sejam lucrativas ao transformar os valores em reais.
Por outro lado, na medida em que a taxa de câmbio se mantém alta, isso acaba sendo repassado para os custos, ou seja, a produção também se torna mais onerosa. Essa variação pode impactar mais fortemente produtos que têm exportação limitada e mercado internacional mais restrito.

Além destes pontos indicados, é necessária atenção especial ao gerenciamento de endividamento em dólar. As empresas que estão com grande parte de suas dívidas atrelada ao dólar, porém sem contrapartida em exportações, precisam ligar o sinal de alerta, pois estão extremamente expostas à variação cambial.

Diante do cenário atual, o primeiro item da lista de qualquer empresa do agronegócio é saber lidar com o risco cambial. Uma das ações que pode trazer resultados mais imediatos é fazer compras e vendas “casadas”, ou seja, adquirir insumos no mesmo dia que vender produtos. Dessa forma, será possível fazer as negociações com o dólar no mesmo patamar.

Um planejamento rápido e consistente é fator de sobrevivência para o agronegócio nesse momento de instabilidade. Apesar de o planejamento estratégico ter uma relação direta e intrínseca com os resultados de longo prazo, faz parte de sua administração desdobrá-lo no nível tático e operacional. Assim, é possível gerenciar ações e metas de curto, médio e longo prazos, estabelecendo formas para mensurá-lo. A definição de etapas faz com que a organização empresarial passe a lidar de melhor maneira com possíveis alterações de mercado e economia, como é o caso da variação do dólar.
Ter uma gestão operacional bem estruturada será o que vai definir se os resultados serão positivos ou negativos. Na gestão operacional, é necessária a mobilização de ferramentas nas diversas áreas da empresa, como administrativa, financeira, tecnologia da informação (TI), recursos humanos, cadeia de fornecimento, contabilidade, marketing e produção. São elementos matemáticos e científicos utilizados para implementar melhorias que resultarão em benefícios e agregação de valor ao negócio.

De forma geral, o agronegócio tem tudo para continuar a crescer mais do que outros setores e permanecer como a locomotiva da economia nacional. O segmento deve ganhar mais do que perder com a desvalorização cambial, porém sem uma gestão competente e um planejamento consistente, o cenário com fatores negativos pode se transformar em uma futura crise.

*Ana Paula Firmato é sócia da área de Debt Advisory da KPMG no Brasil