Perspectiva-2021/2022


A safra 2020/21 da cana-de-açúcar foi muito bem nos quesitos qualidade e produtividade, segundo especialistas do setor. Até mesmo a seca ocorrida ­— que já era esperada — contribuiu para melhores resultados. Para o estrategista do setor de açúcar e etanol do Rabobank, Andy Duff, os preços acabaram sendo condizentes com o desempenho agronômico. “Tivemos um cenário de volumes excelentes, preços razoáveis e custos normais, ou seja, as margens foram boas”, afirmou. Com isso, o setor entrou com o pé direito na temporada 2021/22. Mas o cenário que se viu na sequência foi bem diferente das expectativas.

“Não dá para minimizar todos os impactos desses eventos climáticos sobre a capacidade de recuperação dos canaviais” Andy Duff Rabobank (Crédito:Divulgação)


Na opinião do diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, “do ponto de vista de oferta de matéria-prima, esta foi a pior safra dos últimos dez anos”. Os canaviais sofreram com os eventos climáticos: secas, geadas e incêndios naturais. “Perdemos algo como 85 milhões de toneladas de cana”, disse o executivo. A queda de produção no Centro-Sul do País passa de 15%, em comparação com a safra anterior: o volume que chegou a 605 milhões de toneladas agora é previsto em, no máximo, 525 milhões. A Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) confirma a redução de 5,4% na área colhida nos canaviais do estado frente ao ciclo passado,aproximadamente 4,2 milhões de hectares a menos.


O mercado de combustíveis repercutiu as alterações vindas das fazendas e os preços começaram a subir. “Com a baixa oferta de etanol nasceu uma situação de escassez relativa do combustível, ao mesmo tempo em que os preços internos subiam de forma vertiginosa”, afirmou Duff, do Rabobank. Para ele o comerciante de etanol tem visto preços “inéditos e espetaculares”, pois os R$ 0,78 kg/ATR da última safra podem passar a R$ 1,10 kg/ATR, de acordo com as previsões para o setor.


O custo de produção, fator importante nesse cálculo, também aumentou consideravelmente. O preço do óleo diesel S10, por exemplo, item que gera impacto direto nas despesas com logística, subiu mais de 45% na comparação entre dezembro de 2021 e o mesmo mês do ano anterior, passando de R$ 3,901 para R$ 5,673, conforme o Índice de Preços Ticket Long (IPTL). Já o valor médio dos fertilizantes, segundo Duff, passou de US$ 309 para US$ 775, entre 2020 e 2021, o que representa acréscimo maior do que 150%. Para o estrategista do Rabobank, “no final das contas, os aumentos dos preços do etanol acabaram não chegando aos bolsos dos produtores nem às usinas”.


As condições agronômicas no campo deixaram uma herança difícil de ser enfrentada durante a entressafra. É provável que a safra 2022/23 seja iniciada tardiamente com o objetivo de aumentar as chances de recuperação e desenvolvimento da cana. Ainda que o clima favoreça, é possível que essa retomada seja parcial, em até 550 milhões de toneladas. No entanto, se for mantida a imprevisibilidade de 2021, a produção de matéria-prima pode ser até inferior à prevista para 2021/22. “Não dá para minimizar todos os impactos desses eventos climáticos sobre a capacidade de recuperação dos canaviais”, afirmou o estrategista do Rabobank.

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