Neste exato momento, é de quase 100% a probabilidade de que o agrônomo Maurício Palma Nogueira, da consultoria Agroconsult, esteja na estrada,  a bordo de uma camionete, avaliando fazendas de pecuária nos principais polos de criação e de engorda de gado. Até o dia 18 de junho, Nogueira integrará uma equipe de técnicos que vão percorrer 60 mil quilômetros, em mais uma edição do Rally da Pecuária, uma jornada iniciada na última semana de abril. Realizado desde 2004, o Rally é o mais antigo evento do gênero no País e tem como patrocinadores a Dow Agroscience, a Phibro Saúde Animal e a Heringer Fertilizantes, além da Volkswagem e do Banco do Brasil.

As tecnologias vêm trazendo que tipo de facilidades ao pecuarista? 
Até bem pouco tempo atrás, o pecuarista só podia melhorar as pastagens e frear o processo de degradação através da reforma, ou seja, replantando todo o capim da área improdutiva. Atualmente, o produtor pode aplicar insumos de superfície e recuperar as pastagens sem a necessidade de arar e gradear a terra, expondo o solo a risco de erosão.

Em quais regiões aconteceram os maiores avanços tecnológicos?
De certa forma, houve avanço em todo o País. No entanto, eu destacaria o Estado de Mato Grosso, pois a feição da pecuária bovina se transformou por completo, através da implantação de projetos de integração com a lavoura e também com projetos de confinamento.

O que tem levado os pecuaristas a cuidarem mais do pasto?
Em algumas regiões, a proximidade da pecuária com a agricultura já favorece e acelera o processo de intensificação das fazendas de gado. Além do mais, há uma valorização crescente da terra recuperada, especialmente em áreas propícias à agricultura.

O que já pode ser colocado na conta positiva da pecuária?
Os índices produtivos e reprodutivos têm melhorado, a despeito do grande trabalho que ainda precisa ser feito. Mas, o fato é que dos anos 1990 até agora, caso continuasse com a produtividade da época, para produzir as dez milhões de toneladas de carne que o Brasil processa, o pecuarista teria de ter desmatado 250 milhões de hectares, além dos 167 milhões de hectares em uso. Essa área foi poupada porque a criação ganhou eficiência.

Fim da linha: com alto grau de degra­dação, o gado perde peso e as plantas invasoras tomam conta do pasto

Nas suas andanças, o que mais lhe chamou a atenção?
Em 2011, visitamos uma fazenda de excelência em Mato Grosso, uma propriedade de 100 mil animais e que serve como modelo para o Rally da Pecuária. O dono havia sofrido um processo injustificado, movido pelo Ministério do Trabalho, alguns anos antes. O que me chamou a atenção foi o grande embate que o produtor travou com as autoridades para mostrar que não estava fora da lei, enquanto transformava a fazenda em exemplo de integração lavoura-pecuária.

O que motivou esse produtor a não desistir da pecuária?
O fato é que, enquanto muitos produtores desistem, essa fazenda foi em frente porque o pecuarista acredita que a qualidade dos animais ofertados no mercado deve ser acompanhada por produtividade e eficiência, mesmo num momento adverso. São de exemplos assim que o País precisa: fazendas administradas de forma moderna e parcerias de alto nível com as empresas de insumos e com os frigoríficos.

Qual o principal avanço observado nas mais recentes edições do Rally da Pecuária?
Por imagem de satélite confirmamos que estão em processo de degradação cerca de 47% do total de 167 milhões de hectares de pastagens, entre cultivadas e nativas, o equivalente a 79 milhões de hectares. Mas processo de degradação não significa que elas estejam inutilizadas e, sim, que pioram ano a ano.

O produtor pode errar muito ao avaliar sua pastagem?
Sim. Ao se superestimar a quantidade de pastagens em más condições, munidos de informações incorretas, as medidas para reverter a baixa produtividade das pastagens acabam sendo equivocadas.

De que maneira?
Da parte do produtor, pode levar a desperdiçar recursos com replantio, quando elas poderiam ser recuperadas com tecnologias mais simples e baratas. Ao errar, o produtor joga dinheiro pela janela.

Em que grau esse equívoco vem sendo praticado pelos produtores?
Dados levantados pela Agroconsult indicam que o produtor tem reformado 14,5% de suas áreas de pastagens por ano, sendo que poderia reformar apenas 3% e recuperar os outros 11,5%.