O engenheiro agrônomo Newton Matsumoto cultiva 38 hectares de uvas de mesa na fazenda Área Nova, em Petrolina, município pernambucano do Vale do Rio São Francisco,que se tornou o maior polo de produção de fruta irrigada do País. Matsumoto é agricultor há quase duas décadas e atualmente colhe mil toneladas de cachos de uva, por safra. Na pequena propriedade, a qualidade da fruta é de dar inveja aos mais bem aparelhados produtores do País. Atualmente, Matsumoto vende 80% de sua produção como uva premium. “Consegui chegar a esse índice, à medida que buscava saber o que quer o consumidor de fruta”, diz Matsumoto. “Afinal, aqui o freguês tem sempre razão.” 

A uva colhida por Matsumoto atende a um mercado diferenciado e exigente, que paga mais por um produto de alta qualidade. Mas nem sempre foi assim. Até 2009, ele não tinha noção se aquilo que tirava do campo era de fato um produto apreciado pelo consumidor. “Produzia o que achava que era bom e não me baseava na demanda do mercado, em termos de qualidade do produto”, diz Matsumoto. “Hoje é diferente e sei que não estou sozinho nessa jornada para entender à cadeia produtiva.” Quando fala de cadeia produtiva, Matsumoto se refere ao programa Mais Qualidade Bayer CropScience, da multinacional alemã que fabrica insumos e agroquímicos e desenvolve tecnologias para o homem do campo. O programa, criado pela Bayer há cinco anos, atualmente congrega 980 produtores, a maior parte deles pequenos proprietário. Um dos objetivos do Mais Qualidade é, justamente, aproximar o produtor do consumidor. “Entender as duas pontas da cadeia ajuda o agricultor a direcionar sua atividade”, diz Elaine Delgado, coordenadora de Serviços Agronômicos da Bayer CropScience. “Ele se especializa naquilo que é importante, visando tirar o máximo de sua atividade, e está sempre procurando por novidades.”

O trabalho desenvolvido pelo Mais Qualidade implica busca constante pela excelência na produção. O mais recente projeto nasceu no fim do ano passado. A ideia dos produtores agregados ao programa, e muitos deles que já são diferenciados naquilo que fazem, como Matsumoto, era buscar por ferramentas de medição mais precisas dos atributos da fruta. De acordo com Elaine, o que os produtores buscavam era uma espécie de certificado de qualidade. “Na verdade, eles queriam um estudo mais minucioso sobre a uva que produzem, do ponto de vista do consumidor”, diz Elaine.

Para dar forma aos anseios dos produtores, a Bayer firmou uma parceria com a Faculdade de Tecnologia Termomecânica (FTT), mantida pela Fundação Salvador Arena, de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Assim nasceu a proposta de um estudo com o objetivo de fazer um levantamento detalhado sobre a avaliação sensorial das frutas  produzidas pelos agricultores pernambucanos. “A fundação é muito confiável, tinha a estrutura ideal para o projeto”, afirma Elaine. De acordo com Márcia Pulzzato, coordenadora do curso de Alimentos da FTT, as amostras de uvas foram cuidadosamente selecionadas em Petrolina e levadas para os laboratórios da faculdade. “A avaliação visou identificar a aceitação, a preferência e a intenção de compra da uva de mesa, por meio de análise sensorial realizada junto a consumidores”, afirma Márcia.
 
Foram testadas variedades thompson e crimson. A avaliação levou em conta três quesitos importantes para o consumidor. O primeiro foi a aceitação da fruta, do ponto de vista da doçura, sabor, acidez, suculência, firmeza e aparência. Em seguida, foram analisadas a intenção de compra do consumidor e a ordem de preferência, de acordo com a escolha do tipo fruta. Para a análise da variedade thompson participaram 131 consumidores, dos quais 56% eram mulheres e 44% homens. Para as uvas crimson foram recrutadas 130 pessoas, 48,5% mulheres e 51,5% homens. “Para ambas as variedades houve predileção pelas amostras com maior índice de maturação, em função da maior doçura e menor acidez”, diz Márcia. Uma das principais contribuições  do estudo é fornecer ao produtor uma ferramenta importante de gestão que pode significar mais lucro na propriedade. Com base nas avaliações, o produtor pode planejar melhor o momento da colheita da fruta de acordo com o brix, termo utilizado para classificar o nível de açúcar do fruto, e que depende do tempo de maturação. “O resultado dessa análise ajuda o produtor a colocar no mercado a uva que o consumidor quer”, diz Márcia Com os resultados em mãos, desde 2013, Matsumoto e seus companheiros no programa Mais Qualidade estão colhendo as primeiras frutas com base na avaliação sensorial. “Estou me sentindo mais próximo do consumidor porque o estudo permite um posicionamento mais correto do nosso produto para o cliente”, afirma Matsumoto. O produtor é um dos principais fornecedores de uva de mesa para a cooperativa Agrícola Nova Aliança (Coana), de Petrolina. Por safra, a cooperativa recebe cinco mil toneladas da fruta e as coloca em pontos de venda de clientela exigente das faixas A e B.

Um dos principais destinos das uvas produzidas pelos agricultores de Petrolina e  distribuídas pela Coana é a Natural da Terra, destaque no segmento de hortifruti, em São Paulo. A Natural da Terra, que atende a 300 mil consumidores por mês, fatura cerca de R$ 240 milhões com a  venda de alimentos frescos e naturais. Atualmente, a rede mantém sete lojas em bairros nobres da capital paulista, como Moema. O grupo compra, por mês, uma média de três toneladas de uvas, entre elas as produzidas pelos produtores pernambucanos. Segundo Luiz Vasconcelos, sócio-diretor da Natural da Terra, é importante poder contar com fornecedores como a Coana, que investe para fornecer ao mercado, durante todo o ano, uma uva sem acidez. “Esse é o maior atributo de  qualidade da fruta”, Vasconcelos. “Ser parceiro do produtor permite que o consumidor passe a ser o centro das atenções”, diz. Vasconcelos reconhece o esforço dos produtores. “Vejo que há uma preocupação maior por parte dos agricultores e cooperativas para entregarem ao mercado um produto diferenciado”, afirma o diretor da Natural da Terra. No caso dos produtores de Petrolina, Vasconcelos destaca também o cuidado na apresentação, que vai do brix até a embalagem. Sem contar o aprimoramento da logística. Atualmente, a entrega da fruta é feita em caminhão refrigerado e acondicionada em palets, otimizando as operações de carga e descarga, o que garante a sua conservação. “E se ela chega no ponto, de acordo com o que quer o cliente, o negócio está fechado”, diz Vasconcelos.