Após cumprir uma longa agenda de compromissos por conta da reunião dos BRICS, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em Fortaleza, na segunda quinzena de julho, o presidente chinês, Xi Jinping, voou para Brasília. De olho nos assuntos de interesse entre os dois países, Xi Jinping quis tratar diretamente com a presidenta Dilma Rousseff sobre agronegócio, petróleo, energia elétrica e minério de ferro. Depois de conversas sobre acertos imediatos e projetos futuros, foi assinado um documento com 32 acordos de cooperação em diversas áreas, entre eles o comércio de commodities e pesquisa e tecnologia. Um almoço no Palácio do Itamaraty, que reuniu empresários do setor, como o CEO do grupo JBS, Wesley

Batista, e autoridades como o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e Eduardo Riedel, vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), serviu para comemorar alguns avanços nas relações comerciais entre os dois países. “O encontro foi fundamental para alinhar parcerias estratégicas”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff. A China, hoje o principal parceiro comercial do Brasil, absorveu US$ 46 bilhões das exportações brasileiras no ano passado, quase 20% do total de US$ 242,2 bilhões.

Para a indústria frigorífica, o anúncio mais importante foi a retirada do embargo à carne bovina brasileira. Desde 2012, o comércio estava suspenso porque, na época, foi detectado um caso atípico da doença da vaca louca no País, levando os chineses, sem maiores justificativas, a suspenderem as compras. De acordo com Riedel, as exportações são estratégicas para a pecuária brasileira, setor que necessita de regras claras para crescer de forma sustentável em um país onde o consumo de proteína animal nunca foi tão grande como nos dias atuais. “Estamos falando de mecanismos mais seguros e perenes de comércio”, diz Riedel. Segundo ele, o consumo per capita do 1,4 bilhão de habitantes da China é de 4,7 quilos de proteína animal, por ano.“Mas, eles gostariam de consumir o dobro do que levam à mesa.” 

O Brasil tem, atualmente, oito unidades frigoríficas habilitadas para reiniciar as exportações à China. Entre elas estão cinco do JBS, duas do Marfrig e uma do Minerva. Agora, o setor espera retomar o comércio que era crescente com os chineses. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a reabertura chinesa poderia gerar, já em 2015, uma receita adicional no ano de até US$ 1,2 bilhão para o País. Animadas com essa possibilidade, a Abiec e a CNA solicitaram a habilitação de outros nove frigoríficos. “Já pedimos o modelo de análise rápida, para agilizar o processo desses estabelecimentos”, afirma Riedel.

Embalados pelo apetite chinês por proteína animal, o setor de aves e suínos também solicitou a habilitação de novos frigoríficos de exportação. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, oito unidades foram visitadas por técnicos do serviço sanitário da China no ano passado, mas ainda não foram autorizadas a iniciar os embarques. “Queremos ampliar os negócios com a China, habilitando pelo  menos esses frigoríficos”, diz Turra. Com as autorizações, a previsão é de que as exportações de aves e suínos, em cada uma das unidades de abate, aumente dez mil toneladas por ano. Para o diretor global de assuntos corporativos da BRF, Marcos Jank, a disposição chinesa em comprar carne no Brasil mostra qual é o melhor caminho para aumentar as vendas para o mercado asiático. “É mais vantajoso exportar carne do que soja, porque agregar valor traz divisas ao País”, diz. Atualmente, de tudo que a China compra no Brasil, 38% corresponde a soja. Mas, segundo Jank, enquanto a oleaginosa sai do País pela média de US$ 500 a tonelada, a carne pode chegar a US$ 5 mil a tonelada. “Precisamos vender para o mercado chinês”, afirma Jank. Nos últimos tempos, a BRF tenta fechar uma joint venture com uma empresa chinesa que permita vender aos asiáticos produtos mais sofisticados, como cortes preparados e presuntos.

No campo dos interesses chineses, o presidente Xi Jinping afirmou que seu país quer investir mais em obras de infraestrutura. “A China está disposta a cooperar na construção de ferrovias”, disse. Entre as propostas dos asiáticos está a de um fundo destinado à infraestrutura em toda a América do Sul, com capital de US$ 20 bilhões.