Nas últimas safras, com pastagens degradadas, preço da carne bovina em queda e bloqueios sanitários para a exportação, a solução tem sido o abate de fêmeas para fazer caixa na fazenda e pagar as contas do mês. Este ano, tudo indica que o cenário não vai mudar. “O abate de fêmeas ajuda a compor os custos de produção, mas não ajuda o produtor’, diz Douglas Coelho, analista de mercado da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP). “O abate mantém alta a oferta de carne e baixo o preço da arroba.”

De janeiro a setembro de 2012 foram abatidos, no Brasil, 22,5 milhões de bovinos, dos quais 9,7 milhões eram fêmeas, ou seja, mais de 43% do total. No mesmo período, em 2011, os abates inspecionados foram de 21 milhões de animais, dos quais 41% eram fêmeas. Neste ano, a tendência é enviar mais vacas ao frigorífico, porque o preço do bezerro segue em queda. “Isso não anima os pecuaristas”, diz Coelho. “O abate de fêmeas neste ano deve ficar acima dos 43% de 2012.” Para o bezerro, o preço médio deve ficar abaixo de R$ 760, prevê a Scot. No ano passado, a média estava em R$ 767 e em 2011, R$ 791. A arroba do boi gordo, que no ano passado custou, em média, R$ 96, também deve ficar mais barata. “Acredito que somente em 2014 este ciclo de baixa da pecuária comece a se inverter, pois não teremos tantos bezerros para engordar e a oferta de gado será menor”, diz Coelho.

Para Luciano Vacari, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), de Cuiabá (MT), a história de ciclo pecuário não cola. Para ele, na maioria das vezes em que há excesso de carne no mercado, acontecimentos paralelos justificam a queda de preços e o abate excessivo de matrizes. “O último período de muita fêmea nos frigoríficos, em 2005, foi antecedido por um ano em que houve um surto de febre aftosa”, diz Vacari. “A baixa atual vem na sequência de pastagens sem condição de uso e do embargo russo.” Em Mato Grosso, dono do maior plantel bovino do País, o reflexo do abate excessivo já apareceu no inventário do rebanho. Os 5,5 milhões de matrizes sacrificadas durante 2012 ajudaram a reduzir o rebanho do Estado em 522 mil cabeças. Eram 29,1 milhões de animais em 2011 e atualmente são 28,6 milhões, contando todas as categorias de animais.