Caro leitor da Dinheiro Rural, se você ficou curioso com o título deste artigo, O Conto da Operação J. Dalton, vou ajudá-lo a entender através de dois capítulos desse gênero literário. A inspiração para o conto vem dos batismos dados pela Polícia Federal brasileira para suas grandes operações, cada vez mais frequentes no Brasil. A história começa no dia 11 de setembro deste ano, data que remete à queda das torres gêmeas em Nova York, em 2001, e que é amplamente lembrada nos Estados Unidos, país no qual vivo atualmente.

O primeiro capítulo começa com um fato extraordinário, que tem o poder de provocar uma grande alegria. As exportações mundiais do agronegócio, em agosto, anunciadas em 11 de setembro, somaram US$ 10,17 bilhões, sendo quase 50% do total exportado pelo Brasil. Em 2013, as exportações do setor acumuladas pelo País já batem em US$ 70 bilhões e o saldo, em quase US$ 58 bilhões, 10% superior em relação a 2012. Isso sem contar, ainda, a grande influência do novo câmbio daqui para a frente. A renda do campo deve chegar a US$ 180 bilhões em 2013. Por isso, o agro é visto como o setor mais competitivo da economia do País, aonde quer que se vá, no mundo.

A importância do campo para o Brasil extrapola a sua própria dimensão, ao segurar as contas nacionais, diuturnamente. Em agosto, tomada por inteiro, a balança comercial brasileira apresentou o seu pior desempenho em décadas. Com exceção do agro, quase todas as demais exportações caíram, devido à deterioração da capacidade competitiva das empresas, fruto de pouquíssimas reformas estruturantes feitas pelo governo federal.
?Já o segundo capítulo do conto provoca tristeza, ao contrário da alegria proporcionada pelo primeiro. Ele começa com a notícia do dia 14 de setembro intitulada Instalada a Comissão da PEC Anti-Indígena, divulgada pela organização não governamental Greenpeace, que se diz a dona da batalha incessante pela preservação ambiental do planeta. A PEC visa disciplinar e ampliar o debate, além de determinar quais são os responsáveis na questão da demarcação de terras indígenas no País. Para começar, causa estranheza esse tema na seara do Greenpeace. Ou seria Indianpeace? Da referida publicação, duas frases se destacam para esse capítulo: “…se os representantes do agronegócio saírem vencedores nessa batalha, como saíram no Código Florestal, não serão apenas os indígenas que perderão, mas toda a sociedade brasileira…” a outra diz ser o agronegócio “o setor mais atrasado da economia brasileira”.

Caro leitor, como fazer para levar esse conto até o fim com um desfecho coerente? De um lado, está o extraordinário desempenho do agronegócio. Do outro, o Greenpeace, alardeando que a agropecuária é o setor mais atrasado da economia e que seu crescimento é nocivo à sociedade brasileira. Quem estaria, nesse caso, com algum problema de visão? Aqueles que fazem o agro acontecer ou a tal organização? Para responder rapidamente à questão, a polícia federal de nosso conto montou a Operação J.Dalton. E com apenas alguns minutos saiu o veredicto: nada de errado foi encontrado.

A explicação para essa conclusão da polícia remete ao nome Dalton, uma homenagem ao inglês John Dalton, nascido em 1766. Dalton foi um grande cientista, matemático e químico com diversas contribuições, principalmente na teoria atômica. Mas ele tinha um problema na visão que, investigado, deu origem ao termo daltonismo, e é por essa deficiência que ele ficou conhecido. Daltônicos têm dificuldade de ver direito durante toda a sua vida.

Por isso, duas lições podem ser tiradas de O Conto da Operação J. Dalton. A primeira lição é que as cadeias produtivas do agronegócio precisam agir coletivamente e com mais rigor em relação às organizações que são, levianamente, ofensivas ao homem do campo. A segunda lição é a da necessidade de alardearmos a todo momento à sociedade brasileira que o agronegócio leva, sim, ao desenvolvimento econômico, social e ambiental. O agronegócio nunca foi um conto do vigário, a despeito das muitas tentativas em se provar o contrário.