O consumo de peixe no Brasil, que era de seis quilos porhabitante em 2000, passou para nove quilos em 2010, um crescimento de 50% na década. Mas, na comparação com o consumo mundial, o País ainda não avançou o suficiente. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o consumo global de pescados na década atingiu 116,9 mil toneladas, volume equivalente a 17 quilos de peixe por habitante. A boa notícia é que o Brasil possui um grande potencial a ser desenvolvido no segmento da aquacultura, baseado em seus 8,5 mil quilômetros de costa e por possuir cinco milhões de hectares de reservatórios de água- doce, o equivalente a 12% da reserva mundial. O volume de água no País é o maior do planeta. O amadurecimento da cadeia nacional possibilitaria escalas competitivas e fornecimento constante, com produto de qualidade e diversificado. E o mais importante, com praticidade, uma demanda do público urbano.

O amadurecimento da cadeia aquícola passa pela integração e pelo alinhamento entre os produtores, os frigoríficos, a indústria da nutrição animal e o governo federal. O trabalho em conjunto possibilita menores custos de produção, melhor distribuição dos produtos, divulgação e comunicação. Também abre caminho para a exportação em escala de peixes típicos brasileiros, como o tambaqui, o tambacu e o pirarucu, entre outros, e também da tilápia e do camarão. Entre cinco e dez anos, as exportações poderiam chegar a 20% da produção total do País. Hoje, sem a cadeia integrada, as exportações de peixes são ínfimas. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior, no ano passado, exportamos somente 40,8 mil toneladas de pescados, que renderam US$ 210 milhões, mas importamos 364 mil toneladas por R$ 600 milhões.

Nos países em que a aquacultura é um setor organizado, como a Noruega e o Chile, houve um alinhamento geral da cadeia produtiva. Na produção de salmão, o peixe mais exportado por esses países, os produtores passaram a usar gaiolas na criação dos pescados, além de nutrição e manejo adequados. Também intensificaram e homogeneizaram a produção. O trabalho foi realizado em linha com os frigoríficos e a indústria de nutrição, setores que deram suporte para uma melhor curva de crescimento, ao mitigarem os riscos naturais do setor. O resultado foi uma padronização na qualidade final do filé de salmão. Aos governos desses países coube definir as normas de sustentabilidade da aquacultura e a manutenção da boa imagem do salmão, aumentando o comércio doméstico e as exportações.

No Brasil, o governo vem tomando algumas medidas importantes para o seguimento. Vale mencionar duas. Em março do ano passado, quando o atual ministro da Pesca e Aquacultura, Marcelo Crivella, tomou posse, foi dada a largada para um planejamento conjunto de empresas e produtores. No foco estão os principais gargalos do setor, como as demoradas licenças ambientais, a insuficiência dos pacotes tecnológicos e a grande necessidade de capital de giro.

A segunda medida que vale ressaltar é o trabalho realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).A instituição tem mantido o diálogo com produtores, associações e indústria para chegar a estatísticas mais realistas sobre o segmento. Com isso, a avaliação e o suporte necessários à atividade podem ser ajustados, diminuindo a possibilidade de desperdício de recursos. Assim, apesar da grande burocracia nos processos, como os tributários, nos quais ainda falta isonomia para a cobrança do PIS/Cofins na cadeia aquícola, o trabalho foi iniciado. Se levado adiante, o Brasil pode chegar em 2025 com um consumo per capita de pelo menos 15 quilos de pescados. Esse cenário colocaria o País, hoje um gigante adormecido, entre os três principais líderes mundiais na produção de pescados, com volume próximo a dez milhões de toneladas por ano.