O ano era 1960. Todo o País se mobilizava com a iminente inauguração de Brasília e a transferência do núcleo de poder do Rio de Janeiro para o Cerrado brasileiro. As pequenas árvores retorcidas e o chão árido em que Juscelino Kubitschek enxergou o futuro da nação não davam a dimensão da potência agropecuária que o Brasil se tornaria, quatro décadas mais tarde. Por caminhos às vezes tortuosos, pela coragem daqueles que marcharam rumo ao Centro- Oeste e sobretudo pela competência, recaiu sobre os ombros desta nação a responsabilidade, além de alimentar o seu próprio povo, de alimentar o mundo. Desde então, fatos e mitos vêm se confundindo numa descompassada dança em que a verdade muitas vezes é alienada da história.

Em 1999, pouco antes de morrer, o americano Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz, conhecido como o “pai da revolução verde”, cujos saberes na ciência das plantas livraram mais de 600 milhões de pessoas da fome, disse sobre o cuidado com o meio ambiente: “ Se a produtividade dos cereais de 1950 tivesse permanecido em 1999, teríamos precisado de 1,8 bilhão de hectares adicionais de terra da mesma qualidade, em vez dos 600 milhões que foram usados”.

Nesse ponto, os números são dramáticos: em 1960 havia 4,5 hectares de terra para alimentar cada habitante da terra. Hoje, há apenas 1,5 hectare, segundo dados da FAO, braço da Organização das Nações Unidas para Alimentação. Em números gerais, na década de 1970 o mundo possuía 1,5 bilhão de hectares para a produção de alimentos que abasteciam uma população de 3,6 bilhões de pessoas. Hoje, temos o mesmo 1,5 bilhão de hectares, porém, somos um planeta com 7 bilhões de habitantes que precisam, ou deveriam, comer diariamente.

Nos próximos anos serão enormes as pressões sobre o campo. De um lado, a cobrança de quebras de recordes para aumento de produção de alimentos e energia. De outro, a exigência de que essa produção seja sustentável e cada vez mais eficiente, o que é absolutamente factível desde que adotadas as tecnologias corretas. Não é possível aumentar a produção sem sementes de alta qualidade e sem o uso de fertilizantes e defensivos agrícolas para combater as pragas que aniquilam até 80% da colheita de algumas das nossas lavouras. Não é possível diminuir as perdas sem máquinas mais eficientes. Não é possível atender às expectativas do Brasil e do mundo, de ter comida acessível para a população, sem ciência. Há espaço tanto para a agricultura convencional, quanto para a de nicho, no chamado cultivo orgânico.

Com o avanço das legislações e o aumento das exigências em todos os mercados, os defensivos agrícolas usados nas lavouras são muito mais seguros hoje do que há 40 anos, quando o mundo começou a viver a sua primeira “revolução verde”. A ciência envolvida no desenvolvimento de novas moléculas exige investimentos vultosos. Desde a primeira pesquisa, até a sua aprovação final, são mais de US$ 250 milhões em investimentos para que um novo produto chegue ao campo em um período que compreende mais de uma década.

Nas lavouras, centenas de milhares de pessoas são treinadas, todos os anos, pelas próprias indústrias para que manipulem tais produtos com segurança, tanto para quem aplica, quanto para quem consome, como atestam as estatísticas do governo fornecidas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA). O que pode acontecer algumas vezes é a utilização de produtos sem registro para uma determinada cultura, cujo produto foi aprovado para outros cultivos.

É possível afirmar que a ciência e a inovação são dois dos pilares que sustentam o moderno agronegócio brasileiro, tendo transformado o País em uma potência agrícola admirada mundialmente. Hoje, o Brasil começa uma segunda revolução que vem sendo chamada de “revolução verde-verde”. Com ela, além de alimentar pessoas, fazem parte de seu conceito a saúde e o meio ambiente, um grande desafio para o Brasil, seus produtores e para a ciência.