Uma transformação inspiradora está ditando as regras de uma revolução silenciosa na ovinocultura nacional: a carne de cordeiro vem caindo definitivamente no gosto do consumidor. E tem muito chão para crescer: o brasileiro, que ainda consome 700 gramas de carne de cordeiro por ano, em média, pode consumir muito mais. Em países como Austrália e Nova Zelândia, a demanda por habitante supera os 20 quilos por ano. Mas a situação no Brasil já foi bem diferente. Há dez anos, o consumo per capita entre nós era menos da metade do atual.

O comportamento do consumo na década é o motor do otimismo pelo qual tem passado toda a cadeia produtiva da ovinocultura. A demanda por cortes nobres de cordeiro não para de crescer e atrai cada vez mais os apreciadores da boa carne, em um processo potencializado pelos setores de food service, varejo, churrascarias e pela indústria frigorífica. Um indicador desse movimento positivo é dado pelo rebanho brasileiro, que cresceu 17% desde 2 0 0 0, saindo de 14, 8 milhões para 17,3 milhões de animais. Por trás desse movimento, há uma clara melhoria da carne de cordeiro no Brasil. Antes, ela não atraía os consumidores em função de problemas de textura e de odor desagradável e forte, decorrente do abate de animais velhos e com carne dura. Hoje, o cenário é outro. Nos rebanhos é cada vez maior o volume de cordeiros jovens destinados ao abate, provenientes de criatórios que se dedicam à melhoria da qualidade genética e sanitária.

A indústria, que até recentemente abastecia o mercado com produto exclusivamente importado, é um ator importante e se movimenta para dar respaldo ao avanço dessa carne ovina de qualidade. Mesmo com as importações, que continuam em expansão, as empresas têm incentivado os projetos de criação de ovinos de raças especializadas, no País. Faz parte desse movimento a incorporação de animais mais adaptados às condições de criação no Brasil, necessária para que os criadores ampliem seus rebanhos.

Até bem pouco tempo, a ovinocultura se restringia a raças especializadas em produção de lã no Rio Grande do Sul e a algumas espécimes rústicas no Nordeste, como a Santa Inês. Ao se incorporar novas raças ao rebanho, os produtos nascidos desses cruzamentos geralmente são superiores em carne. Por exemplo, a highlander e a primera, raças vindas da Nova Zelândia, que já atraem criadores das regiões Sudeste e Sul do País. Elas são opções de genética para imprimir o que os geneticistas chamam de choque de sangue essencial para alavancar a produção de carne. Paralelamente à melhoria dos animais, a indústria vem colocando produtos renovados no varejo. Cortes mais adequados à preparação em casa ou especiais para serem incluídos nos cardápios de churrascarias e restaurantes são cada vez mais comuns no mercado e ajudam a mudar a imagem do produto.

Ainda é cedo para prever aonde a ovinocultura do País pode chegar. Mas é certo que esse segmento se encontra em um intenso processo de profissionalização, apoiado no aumento da oferta ao consumidor e na melhoria contínua dos processos. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa / Caprinos e Ovinos), em 2012 a produção nacional superou 85 mil toneladas, 14% a mais em relação ao ano anterior. Neste ano, é esperado novamente um crescimento acima de dois dígitos. Mas ainda há um longo caminho pela frente. A ovinocultura tem uma produção muito pequena comparada às demais proteínas animais, como a carne de frango (13 milhões de toneladas), bovina (9,5 milhões de toneladas) e suína (3,5 milhões de toneladas).