Um estudo recente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), de Cuiabá, revela que em Mato Grosso o custo operacional para a produção de soja convencional ou transgênica, na safra 2013/2014, deverá ser praticamente o mesmo, em torno de R$ 1,3 mil por hectare. Entretanto, o cultivo de plantas oriundas de organismos geneticamente modificados (OGM) é muito superior ao plantio convencional e deverá permanecer assim nos próximos anos. Nesse contexto, algumas reflexões se fazem necessárias. A prometida redução dos gastos dos produtores com aplicação de agroquímicos, em função da adoção de sementes transgênicas, tem se mostrado inválida sob alguns aspectos. Segundo o Imea, na média do Estado, a economia com herbicidas não passa de R$ 3 por hectare. Em algumas regiões, os gastos com herbicidas são até maiores em lavouras cultivadas com grãos geneticamente modificados. Além da elevação nos preços do glifosato, principal herbicida utilizado nas culturas de OGM, o surgimento de plantas invasoras resistentes a essa molécula tem impactado diretamente no custo da soja transgênica. Isso porque as pragas resistentes promovem a necessidade de elevação da dose de herbicida e do número de aplicações em uma mesma área.

O problema não é exclusivo do Brasil. A eficiência da tecnologia de transgenia, que promete eliminar a aplicação de parte dos inseticidas, passou a ser questionada e parte das pulverizações teve de ser retomada, elevando os custos no campo. Segundo estudos do WeedScience, grupo internacional de pesquisas sobre a resistência de plantas daninhas, nos Estados Unidos, 139 tipos de resistência já foram constatados. A necessidade da aplicação adicional de herbicidas para o combate de invasoras em algumas regiões americanas já acarreta aumentos de até R$ 150/ha, além dos gastos com o programa normal de aplicação de glifosato. No Brasil, o problema ainda parece ser mais modesto, mas já chama a atenção em algumas regiões. Nos últimos tempos foram registrados aproximadamente 20 tipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas nas lavouras do País.

Em função do custo de produção equivalente entre os dois tipos de grãos, e do maior valor de mercado do produto não transgênico, parte dos agricultores poderia optar por retomar o cultivo de materiais convencionais. Entretanto, pelo menos no curto prazo, não existe previsão de redução na participação dos transgênicos nas lavouras brasileiras. Ao contrário, a área cultivada com OGM deve continuar a crescer de forma consistente. Para a soja, por exemplo, é possível que a área plantada com grãos convencionais não supere 10% na safra 2013/2014 no Brasil. Essa tendência de consolidação da adoção de transgênicos nos próximos anos tem como base o movimento da indústria de sementes e de agroquímicos em tentar amenizar ou prevenir os problemas de resistência. Essa solução está muitas vezes atrelada ao desenvolvimento de novos eventos de transgenia. Um exemplo disso são os OGM com tolerância a diferentes herbicidas.

Vale ressaltar também que a indústria tem desenvolvido transgenias com vantagens que vão além da facilidade no manejo e que atraem os produtores de grãos. A produção de óleos mais saudáveis, grãos com maior valor nutricional, tolerância à seca e melhor aproveitamento de nitrogênio são apenas alguns dos novos tipos de OGM que devem passar a ser cultivados pelos agricultores brasileiros em um futuro próximo. A expectativa é de que a disponibilidade de novas tecnologias e a adoção de transgênicos pelos produtores continuem avançando a passos largos nos próximos anos. Isso apenas reforça a teoria de que, apesar dos recentes questionamentos, produtos livres de modificações genéticas tendem a se consolidar cada vez mais como um nicho de mercado para as grandes culturas no Brasil.