CONDIÇÕES: Brasil pode concorrer aos melhores mercados

A produção mundial de algodão está concentrada no Hemisfério Norte, sendo o Brasil o único país do Hemisfério Sul que oferece condições para concorrer com paises como os Estados Unidos, maior exportador mundial e, por conseqüência, nosso principal concorrente, com a vantagem, para eles, dos altos subsídios oferecidos ao produtor rural. Contudo, a posição de destaque que o Brasil ocupa no cenário mundial e a sua excepcional produtividade não são suficientes para fazer baixar a guarda do produtor brasileiro. E os Estados Unidos não são a nossa única preocupação. Ainda temos a Índia, a China, o câmbio e a legislação, a falta de infra-estrutura, além dos inúmeros desafios que enfrentamos a cada dia nas nossas lavouras. Mesmo assim, podemos vislumbrar um grande futuro.

A Índia é detentora da maior área plantada de algodão do mundo, equivalente a nove milhões de hectares, seguida de perto pela China, com seis milhões de hectares. Os dois países hoje apresentam baixa produtividade em suas lavouras de algodão. Uma realidade que está mudando rapidamente, com a adoção de novos equipamentos, fertilizantes, e, principalmente, o uso de variedades geneticamente modificadas.

Na Índia, o uso de variedades transgênicas elevou a produtividade de 308 kg por hectare na safra 2001/02, para 515 kg por hectare na safra 2006/07. E o que nós da Abrapa pudemos constatar, em visita recente aos dois países, é que esta produtividade continuará em ascensão. A China tem objetivos claros de crescimento de produtividade, já que, como a Índia, tem limitações de área para plantio e água para irrigar.

Os americanos estão optando por substituir áreas de algodão por milho ou soja, que estão com os preços mais altos, abrindo, portanto, uma excelente oportunidade para o nosso algodão ocupar esse espaço no mercado mundial. Somado a isso, temos redução de área plantada da Austrália, que também abriu espaço para a cotonicultura brasileira. Todo este movimento de mercado elevou os preços da commodity de US$ 0,50 por librapeso para cerca de US$ 0,76 por librapeso. Mas é aqui que entra o câmbio, que fez com que esse aumento de preço não pudesse ser totalmente absorvido pelo produtor brasileiro.

O dólar, que valia R$ 3, caiu para os atuais US$ 1.75. Não bastando isso, os custos dos fertilizantes, combustíveis e mão-de-obra subiram Essa combinação de fatores deixou os produtores de algodão em situação peculiar, obrigando- os a comercializar antecipadamente a produção em contratos futuros de até três anos. A maioria dos produtores terá de cumprir seus contratos de 2008 pelos preços da ordem de US$ 0,58 por libra-peso.

“A China tem objetivos claros de crescimento de produtividade neste setor”

Nos últimos dois anos, tivemos a situação amenizada pelo governo federal, através do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro), que equalizou 51% da safra. Isso foi um alento para os produtores, que, mesmo com uma boa produtividade, não conseguem cobrir os custos de produção, hoje, em torno de R$ 4.804 por hectare, segundo levantamento da Conab na região de Barreiras (BA).

Não são muitas as alternativas para superarmos a situação. Teremos de aumentar a nossa produtividade, que já é o dobro da americana, e reduzir os custos de produção, além de adotar mecanismos de hedge nas vendas futuras. Uma grande ajuda poderá ser a aprovação pela CTNBio de novos eventos transgênicos de quinta geração, resistentes a todo complexo de lagartas e a herbicidas. Só o uso dessa tecnologia trará uma redução no custo da ordem de R$ 300 por hectare, e um aumento de produtividade até 10%.

atividade, que emprega 160 mil pessoas, o governo terá de contribuir, melhorando a infra-estrutura de transportes e abrandando a legislação trabalhista, inadequada ao trabalho rural. Acredito que, se todos fizermos a nossa parte, superaremos as dificuldades e criaremos alicerces sólidos para a cotonicultura nacional.

JOÃO CARLOS JACOBSEN

Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)