Enquanto o Estado de São Paulo se aproxima dos 30 mil óbitos pela covid-19, um muro em uma das ruas do complexo do Hospital das Clínicas, na capital, ganha uma nova homenagem aos profissionais da saúde que têm lutado na linha de frente contra a pandemia. “Essa corrente do bem tem que existir. O coronavírus veio para as pessoas se preocuparem em um tentar ajudar o outro”, afirma o artista Waldir Grisolia, responsável pelo grafite.

Morador da favela da Água Vermelha, na zona leste, Grisolia conseguiu fazer a homenagem com a ajuda de Aline Nodari, funcionária do HC que o colocou em contato com a instituição, e o apoio de Bruno Alves, da Futura Tintas, WBR Wagner e Montana Química. Seu amigo Roberto Alves o ajudou a pintar.

Além do mural, que levou 30 dias entre a concepção e a pintura finalizada no dia 1º de agosto, o artista também fez um quadro no interior do hospital e afirma que a intenção de ambas as peças é agradecer a ajuda dos profissionais da saúde no combate ao coronavírus.

“Esse é um momento bem delicado. Pensei: ‘Poxa, a gente não tem muita coisa a oferecer’, mas queríamos colaborar como podíamos. O médico que está no hospital tem dificuldade de lidar com isso também, por que a gente não fazer essa alegria para eles?”, conta. “Esses médicos têm que saber que tem gente preocupada com eles e que ele eles também têm de se cuidar.”

Não é o primeiro projeto de Grisolia voltado à conscientização para a saúde. Em Florianópolis, ele pintou um mural na Escadaria do Rosário que convidava o público a doar sangue. Na pandemia, paralelamente ao mural no HC, ele também fez uma arte na comunidade onde mora, com a imagem de uma índia cuidando de um macaquinho e a frase “cada um cuida do outro” no braço. Ao lado de André França, ele criou na zona leste o “Beco do Hulk”, uma intervenção artística no distrito de Ermelino Matarazzo com 80 metros de comprimento.

“A região onde a gente mora é muito carente e passar essa informação é importante. Mesmo que uns tenham dinheiro e outros não, ninguém tem a solução para o vírus e estamos todos vulneráveis”, observa. Para Grisolia, há ainda uma grande diferença em como a pandemia da covid-19 é encarada por quem mora nas periferias e quem frequenta os arredores do HC, daí a diferença entre uma arte e outra.

“É nítida a diferença, porque no Hospital das Clínicas a gente percebe que as pessoas têm estudo e cultura e se preocupam muito [com o vírus]. Nas comunidades, nos extremos, há uma distância da pandemia, muita carência, tanto de arte como de assistência. Você vê até que as pessoas fazem churrasco ainda”, observa. “A gente atua com o grafite, mas é tudo uma ligação do bem e do amor.”