Quem diria que as máquinas de construção, como motoniveladoras, escavadeiras e pás-carregadeiras, chamadas de linha amarela, teriam um papel tão importante para a agricultura quanto o de uma máquina agrícola? Identificados com obras urbanas, esses equipamentos estão cada vez mais presentes no dia a dia das fazendas agrícolas e pecuárias. Atualmente, nas multinacionais, como Case, John Deere e JCB, uma linha tênue separa as divisões comerciais de máquinas urbanas das rurais. “No nosso caso, os equipamentos de construção que vão para o campo correspondem a mais de 70% das vendas no Rio Grande do Sul”, diz Roque Reis, diretor-geral da Case Construction para a América Latina. A vantagem é que a linha amarela, além de executar tarefas que somente ela pode desempenhar, é capaz de encarar serviços comumente realizados pelas agrícolas. Mas nem sempre foi assim.

O produtor de arroz irrigado Ari Fernando Foletto, de Itaqui, município da região de fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, conta que foi um acontecimento quando seu pai, na década de 1970, comprou uma retroescavadeira da Case, a 580E. O modelo, um dos primeiros a serem importados dos Estados Unidos, serviu para substituir o trabalho de cerca de 20 homens, por dia, nas plantações de arroz. “A cultura do arroz fez parte da minha infância e, naquela época, tudo era feito no braço, na força”, diz Foletto, 55 anos. Na época, a máquina da Case servia, principalmente, para abertura e limpeza dos canais de irrigação da lavoura, além de participar de outros serviços na fazenda. Atualmente, Foletto conta com dez máquinas, entre retroescavadeiras e escavadeiras hidráulicas, e diz que precisaria de pelo menos outras três unidades para dar conta, com folga,  dos 8,5 mil hectares cultivados com arroz. “Nos dias atuais, nem tem como pensar a produção sem essas máquinas”, afirma Foletto. “Pelas minhas contas, é preciso uma a cada 500 hectares de lavoura.” 

No oeste baiano, quem vem testando a funcionalidade das máquinas construtoras da John Deere é o produtor de soja, algodão e milho Walter Horita, diretor do Grupo Horita, dono de 150 mil hectares na região de Barreiras. “Na lavoura, elas substituem muito bem alguns equipamentos agrícolas”, diz Horita. O grupo possui 29 máquinas da linha amarela, como pás-carregadeiras, que, além de transportarem os rolos de algodão, movimentam insumos a granel, como calcário, gesso agrícola e fertilizante, e motoniveladoras para a implantação e manutenção das estradas internas das fazendas. “Os ganhos com a gestão são significativos”, diz Horita. 

Na propriedade de 900 hectares do produtor Pablo Borg, em Castro, no Paraná, o foco também está na gestão. A versatilidade das amarelas está fazendo a produtividade da fazenda aumentar. Borg produz, anualmente, 35 mil toneladas de silagem de milho, azevém e alfafa para alimentação bovina, vendidos a pecuaristas da região. Neste ano, para tirar os fardos do campo, ele trocou a pá-carregadeira por um manipulador telescópico da JCB. “A nova máquina está permitindo uma movimentação mais precisa e rápida da produção, sem correr o risco de perfuração do filme plástico que protege a silagem”, diz Borg. “Isso significa 5% a mais de pacotes intactos no fim do dia.”  

Na cana-de-açúcar e na pecuária da CFM, empresa do grupo inglês Vestey, as máquinas da linha amarela também visam à eficiência. A CFM opera nove fazendas nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia, nas quais há um rebanho de gado nelore de 40 mil animais e 33 mil hectares de cana para fornecer às usinas. De acordo com o gerente de motomecanização Anselmo Ferrari, na cana-de-açúcar as máquinas estão servindo para reduzir os gastos com serviços terceirizados e para expandir a área de cultivo. “O que pagávamos a terceiros, por mês, deu para amortizar o custo da compra de seis pás-carregadeiras em um ano e meio”, diz Ferrari. Agora, os chamados terraços embutidos, que são bordas elevadas de terra ao redor das lavouras, que servem para proporcionar maior proteção do solo e retenção de água, são feitos com essas pás que substituíram os tradicionais terraceadores e arados. “A máquina faz um trabalho melhor porque deixa as faixas dos terraços mais estreitas, permitindo o plantio da cana por cima delas”, diz Ferrari. “A depender do terreno, ganhamos entre 5% e 8% de área.” Na pecuária, as pás são utilizadas para distribuir ração para o gado e fertilizantes nas pastagens. 

Campo Fértil

Os exemplos de Foletto, Horita, Borg e Ferrari mostram o motivo de o agronegócio ser um campo fértil para as montadoras. Neste ano, segundo dados da Associação de Manufaturadores de Equipamentos, a previsão é vender 25 mil máquinas construtoras no País, das quais 1,2 mil devem ir para o campo. Essa demanda, que tende a aumentar, está levando as empresas a inovações voltadas aos clientes rurais. Na fábrica da Case Construction, em Sorocaba (SP), as adaptações vêm sendo feitas para que elas durem mais. As pás-carregadeiras, por exemplo, recebem uma pintura que não corrói com o transporte de fertilizantes. “Ainda há uma proteção para os componentes eletrônicos”, afirma Reis. 

Outra tecnologia pensada para o setor, disposta tanto nos equipamentos da Case como nos da John Deere – que entrou nesse segmento em 2012 –, é um sistema de ventiladores para expulsar materiais e fuligem do entorno do radiador das máquinas. De acordo com Roberto Marques, diretor da divisão de Construção e Florestal da John Deere, essa inovação permite que a máquina não continue operando na hora da limpeza. “Além disso, podemos garantir o seu monitoramento a distância e ter acesso a dados de produtividade da máquina”, diz Marques. Para a inglesa JCB, que desde 2001 produz pás-carregadeiras e manipuladores telescópicos, no Brasil a meta é aumentar o número de revendas. Segundo Carlos Hernández, presidente da JCB Brasil, nos próximos dois anos a empresa deve sair das atuais 45 revendas para 90. “A ideia é ter uma cobertura nacional para os nossos produtos e estar mais próximos do produtor rural”, afirma Hernández.