Quem viaja pelas estradas que cortam o município de Três Lagoas, na divisa entre Mato Grosso do Sul e São Paulo, rapidamente entende qual é a indústria que domina a economia local. Isso porque nas duas margens da rodovia Marechal Rondon (BR 262), o que mais se vê são as plantações de eucalipto. Essas florestas abastecem as três fábricas existentes na região: a Fíbria, do grupo Vorantim, controlado pelo clã Ermírio de Moraes, a americana International Paper e a novata Eldorado Brasil, comandada pela família Batista, dona do frigorífico JBS. Como chegou por último à região, a unidade da Eldorado, inaugurada pontualmente às 12 horas do dia 12 de dezembro de 2012, optou por uma estratégia florestal que segue na contramão do utilizado pelas concorrentes. Enquanto essas mantêm um estoque de 80% de terras próprias e arrendam 20%, a Eldorado atua com proporção inversa. A opção por esse modelo levou em conta a necessidade de reduzir os custos fixos do empreendimento, que consumiu, em sua primeira fase, R$ 6,2 bilhões. Desse total, R$ 900 milhões foram gastos na área florestal. Dos 150 mil hectares de terras arrendadas sairão a matéria-prima necessária para manter a fábrica atuando em até dois turnos, atingindo uma produção anual de 1,5 milhão de toneladas de celulose em 2013. “Essa foi a forma encontrada para reduzir os custos e tornarmos a operação mais competitiva”, diz José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado, sem revelar o ganho obtido com o processo. “Esse número é considerado estratégico.”

Mais que revelar apenas uma obsessão por custos, o plano estratégico da Eldorado envolve uma visão diferenciada em relação à questão agrária. Cerca de 60% das áreas agriculturáveis de Mato Grosso do Sul são compostas de terras degradadas, nas quais a única atividade econômica é a pecuária. O modelo da Eldorado também possui um viés ambiental. Isso porque, além de garantir a permanência de agricultores e pecuaristas em suas atividades, a empresa também qualifica a terra em termos legais e ambientais. “Após assinarmos o contrato de arredamento, nossa primeira providência é regularizar a documentação e também, quando for o caso, recompor as reservas legais”, afirma Germano Vieira, diretor florestal da Eldorado. Trata-se de itens indispensáveis para que a empresa consiga certificar a madeira de acordo com padrões internacionais do Forest Stewardship Council (FSC), um dos mais respeitados selos ambientais em nível global. De acordo com Vieira, a Eldorado não encontrou dificuldades para a captação de terras. Em boa medida, porque o preço ofertado aos parceiros embute um prêmio bastante elevado. “Pagamos o equivalente a duas vezes mais que o obtido com a pecuária”, diz Vieira. Essa foi a forma encontrada para vencer a desconfiança inicial dos agricultores, que temiam assinar contratos de longa duração. A direção da Eldorado também contratou uma equipe de técnicos locais para fazer a interlocução com os produtores. O time é formado por três funcionários radicados em Três Lagoas e que “falam a língua” dos produtores. “Como a região tem uma longa tradição de pecuária, em nosso primeiro contato só falamos sobre esse tema”, afirma. “O eucalipto só entra na discussão depois de amadurecido o relacionamento.” No entanto, mesmo com essas precauções, a empresa ainda não conseguiu firmar parcerias de longo prazo. Todos os acordos são pelo período de 14 anos. A meta é chegar a até 21 anos.

A estratégia florestal da Eldorado inclui também investimentos em tecnologia e um elevado nível de verticalização. A produção das mudas é feita no viveiro localizado em Andradina, município paulista distante 45 quilômetros de Três Lagoas. Lá, são produzidas 35 milhões de mudas de eucalipto por ano, cuja característica é a capacidade de adaptação às condições do solo e do regime de chuvas da região. O processo produtivo é feito de forma verticalizada e com equipes próprias da empresa. O próximo passo nessa área será a construção de um centro de tecnologia agrícola na região. “Dessa forma, conseguimos controlar a qualidade e a produtividade”, diz Grubisich.