As interconexões do açúcar com o mercado de energia, através do etanol e da bioeletricidade e, mais recentemente, do biogás e do biometano, têm trazido crescentes desafios e oportunidades aos diferentes agentes do mercado.Cerca de 80% do açúcar no mundo de hoje vêm da cana, e o Brasil e a Índia permanecem como os maiores produtores, com a Tailândia crescendo sua área cultivada em ritmo acelerado nos últimos anos.

Mais de um terço da produção global está no Brasil, que hoje responde por 42,7% das exportações mundiais, com 29,8% de sua cana dedicada a esse segmento. Isso significa que qualquer coisa que afete a proporção de cana consumida internamente no País tem um impacto ampliado sobre as exportações. Dado que metade, ou até mais da cana é convertida em etanol, principalmente para o consumo interno, a produção de açúcar e as exportações têm uma ligação direta com os fatores de influência do mercado de etanol. É por isso que o Brasil se tornou o maior fundamento deste mercado.

Historicamente, no entanto, este aumento é um evento recente. Somente em 1989 as exportações de açúcar foram privatizadas no Brasil, e os volumes vendidos aumentaram de 1,05 milhão de toneladas naquele ano, para o recorde de 28 milhões de toneladas em 2010. Desde então, o volume vem caindo. No ano passado, foram 24,1 milhões de toneladas. O motor que supriu a demanda crescente por açúcar no mundo deixou de expandir sua capacidade de moagem. Somente uma mudança profunda de confiança irá reverter a aversão atual por novos investimentos. A moagem deve permanecer, no curto prazo, na faixa de 570 milhões de toneladas a 590 milhões no Centro-Sul, e entre 57 milhões de toneladas e 60 milhões no Norte-Nordeste.

Movendo o foco para Índia e Tailândia, observamos o contrário, com produção em expansão. A Índia tem uma capacidade instalada de produção de açúcar de 31 milhões de toneladas e a expectativa é de que, no médio prazo, a produção vá a 28-29 milhões de toneladas. Nesta safra, a produção deve chegar a 26 milhões de toneladas, ante 24,3 milhões na safra anterior.

Na Tailândia, as exportações podem chegar a um recorde de oito milhões de toneladas em 2014/2015, mas o cultivo no país pode crescer até 74% nos próximos anos, passando de 1,48 para 2,57 milhões de hectares, a partir de incentivos do governo. Com isso, a Tailândia poderá produzir mais de 18 milhões de toneladas de açúcar até o final da década, para um consumo interno de 2,5 milhões de toneladas.
No curto prazo, o mercado global continua sofrendo o impacto de elevados estoques. A safra 2014/15, que vai de outubro a setembro, está indicando um déficit inferior ao inicialmente estimado, em função de produções acima do esperado, principalmente na Comunidade Europeia, Rússia e Índia. O balanço mundial de açúcar, atualizado pela Datagro, indica um déficit de 490 mil toneladas no período. Este déficit vai manter a relação estoque-consumo acima de 45% no final de setembro de 2015, suficiente para manter mercados bem abastecidos.

Um déficit acumulado de sete milhões de toneladas seria necessário para reduzir esta relação em quatro pontos percentuais. Nos últimos dois anos, desde 2012/2013, a produção mundial de açúcar caiu 2,8 milhões de toneladas, de 176,1 para 173,3 milhões. O Brasil reduziu sua produção em 4,6 milhões de toneladas, enquanto a Comunidade Europeia aumentou em 2,1 milhões de toneladas, a Tailândia em 0,6 milhão de toneladas, e a Índia em 0,9 milhão de toneladas. No mesmo período, o consumo mundial subiu 7,3 milhões de toneladas. Passou de 166,9 milhões para 174,1 milhões. O consumo da Índia subiu 0,9 milhão de toneladas, nos EUA em 0,4 milhão de toneladas, no México em 0,3 milhão de toneladas, e no Brasil em 0,2 milhão de toneladas. O açúcar é um tema complexo. Sua importância como alimento e matéria-prima industrial em inúmeras aplicações significa que ele continuará sendo tema de intensa investigação e análise.


Lavoura: mais de um terço da produção global de açúcar está no Brasil, com uma safra de cana que deve permanecer estável no curto prazo