Luís Eduardo Magalhães, 29 – Produtores da Bahia, segundo maior Estado produtor de algodão do Brasil, se preparam para colher em breve uma safra 15% maior e já avaliam um aumento de área de 10% para a safra 2019/20. “Está tudo pronto, as máquinas estão preparadas e revisadas, e as descaroçadeiras também, e agora na primeira quinzena de junho nós vamos iniciar a colheita do algodão no oeste da Bahia”, disse o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão, Júlio Cézar Busato. Segundo ele, o principal motor do crescimento da produção é a área plantada de 25% a 26% maior, já que a produtividade tende a ficar na faixa de 300 a 305 arrobas por hectare, um pouco abaixo das 330 arrobas por hectare obtidas no ciclo anterior. “Porém, ainda é uma excelente produtividade, é o melhor rendimento de algodão não irrigado do mundo”, disse Busato.

Segundo o presidente da Aiba, um período de seca em janeiro e fevereiro prejudicou o desenvolvimento da fibra. “Como a cultura estava numa fase que não exige tanta água e suporta o estresse hídrico, houve perdas mas não foram grandes.” Os bons resultados refletem a aposta do produtor em tecnologia, segundo Busato, citando o investimento em máquinas, sementes e fertilizantes, mas também na melhoria dos solos por meio de plantio direto.

Para a safra 2019/20, que será plantada no fim do ano, Busato acredita em um aumento de área na casa dos 10%. “Acreditamos que a área deve crescer mais, apesar de o mercado neste momento estar em uma situação ruim em função da guerra comercial entre China e EUA – o preço caiu 20%. Estimamos uma área de 350 mil hectares de algodão para a safra 2019/20”, disse. “Neste ano, plantamos 326 mil hectares. Se me perguntassem um mês atrás, diria que ia subir para 380 mil hectares. Hoje acreditamos que vai ter aumento, mas produtor vai aguardar um pouco a definição de mercado, é um crescimento de área mais comedido.”

O conflito comercial sino-americano também tem afetado os preços da soja, o que prejudica os produtores da região, que costumam se dedicar às duas commodities. “Não tem muita alternativa. O que estamos vendo é que vamos ter uma lucratividade menor do que a que tivemos no ano passado e a que teremos neste ano, a não ser que aconteça um fator climático principalmente na safra norte-americana que venha a alterar essa situação.”

Contudo, conforme o presidente da Aiba, a produtividade e a escala de plantio na Bahia ajudam a superar os efeitos da queda dos preços. “Em um momento ruim, o que nos mantém é a escala de produção, que é muito maior do que a dos nossos concorrentes. Há os problemas de logística, que jogam contra, mas o que joga a favor é produtividade e escala.” Segundo ele, produtor da região aposta na tecnologia para seguir competitivo e, para o algodão, essas compras são fechadas em grande parte durante a Bahia Farm Show. “Novas tecnologias permitirão melhorar a produtividade e tentar reduzir custos para fazer frente a essas quedas nos preços. Não temos um governo que vai nos dar US$ 16 bilhões como o norte-americano”, disse, se referindo à ajuda anunciada recentemente pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para os produtores dos EUA. “Os investimentos neste ano devem ser mais em reposição de máquinas, algum aumento em maquinário em virtude do crescimento de área e a busca de novas tecnologias que estão chegando no campo, principalmente essa parte de conectividade entre os equipamentos.”

O presidente da cooperativa Cooperfarms, que atua principalmente no oeste da Bahia, Marcelo Leomar Kappes, disse que em 2018/19 houve um aumento de área de algodão em torno de 20%, para 70 mil hectares, na área dos cooperados, com área migrada de milho e soja. “O algodão da Bahia vem se mostrando um grande negócio, porque a qualidade da nossa pluma é espetacular, e a gente vem conseguindo atingir patamares de produtividade cada vez mais altos. Este foi um ano especial novamente para o algodão pensando em clima, mas em contrapartida tivemos problemas com pragas. A lagarta Spodoptera foi preocupante e envolveu um custo alto para combatê-la. No fim de março, uma chuva intensa prejudicou o algodão plantado um pouco mais cedo, mas, em contrapartida, como choveu bastante no fim do ciclo, a planta vai conseguir uma boa finalização. O oeste da Bahia promete uma grande safra novamente.”

Segundo ele, a área no oeste da Bahia está se consolidando, sem grandes espaços para expansão, mas o representante da cooperativa espera nova migração de soja e milho para algodão. “Para a próxima safra, existe a possibilidade de mais algum aumento de área de algodão. Mas é cedo, depende ainda da questão de preços, produtor tem que fazer determinada quantidade de vendas para ver se os custos se encaixam. Falava-se que a área iria aumentar mais uma vez, mas os preços estavam em outro patamar até pouco tempo atrás.”

*A jornalista viaja a convite da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa)