Trocar produtos é um ato tão  antigo quanto as relações sociais entre os homens. Mas, em sua história, o barter, como são chamadas essas trocas no campo, nunca foi tão complexo como na última década. Hoje, não basta o simples toma lá dá cá. É preciso entender de câmbio, moeda, derivativos e mercado futuro, conceitos muitas vezes distantes da maior parte dos produtores rurais. “O barter é uma moeda e se baseia numa questão de credibilidade”, diz Jorge Maeda, antigo controlador do grupo Maeda, incorporado em 2011 à Agro Vanguarda, produtora de grãos no Centro-Oeste do País, da qual é também um dos acionistas. “Credibilidade significa ativos reais na troca, como ouro, a própria moeda brasileira que está bem valorizada no mundo e por que não, a soja e o milho.” No dia 13 de março, Maeda participou do 1º Fórum Barter Brasil, realizado em São Paulo, com a presença de representantes de empresas de sementes, defensivos, fertilizantes, tradings, cooperativas, consultorias e da bolsa de mercadoria. Esses segmentos são os principais elos da cadeia de barter entre os produtores rurais e o mercado.

César Vieira Júnior, gerente deste segmento na multinacional americana Dow Agroscienses, estima que, atualmente, as operações de barter respondam por cerca de 35% do total de compra e venda no campo. “A pergunta é: como avançar em um negócio do qual não se dispõe nem da quantidade de operações realizadas?”, indaga Vieira Júnior. “Seria muito bom para o mercado começar a reunir esses dados.” Nos últimos três anos, a Dow já trocou por defensivos mais de dois milhões de arrobas de boi gordo, num valor de R$ 180 milhões. O agrônomo Klever José Coral, superintendente da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), com 22 unidades e movimento de R$ 700 milhões por ano, diz que uma das maiores dificuldades nas operações de barter é a formação de preços das commodities. Para ele, com a grande volatilidade dos preços, o problema é como prever a cotação de um produto agrícola em meados de 2014, que é a safra de referência para os insumos e sementes que vão para o campo até o fim do ano. “A cada dia que passa, os negócios se antecipam mais e a safra dada em garantia fica mais distante”, diz Coral.

Segundo Marcelo Gavazzi, diretor de operações de barter da Ihara, empresa de agroquímicos de capital japonês, de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, as tradings até conseguem se posicionar em relação à soja, commodity muito valorizada, mas para outras culturas é mais complicado. “No entanto, em algumas situações, mesmo para a soja o risco é grande”, diz Gavazzi. “As tradings se rendem ao barter porque interessa a elas garantir os grãos no silo.” Mas, um erro no cálculo do frete, por exemplo, derruba a margem de lucros dessas empresas. Na atual safra, o buraco nas contas das tradings é estimado em R$ 300 milhões, em função do aumento do frete e dos gargalos com a logística nos portos. “Para dar fôlego às operações de barter é preciso flexibilizar as garantias dadas às tradings”, diz Gavazzi. Atualmente, elas ocorrem apenas com as Cédulas de Produto Rural (CPRs), mas poderiam ser criadas outras formas de seguro. O gerente da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), Roberto Ricardo Barbosa Machado, afirma que, mais do que outras formas de crédito, o que falta ao produtor é mais informação. “Isso é fácil de resolver, basta divulgar”, diz Machado. “Até a Ucrânia planeja implantar a CPR como moeda de crédito, um papel seguro em que o Brasil já é craque.”