No dia 5 de julho, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, iniciou sua agenda com a assinatura de um acordo para que a BR Distribuidora, que é subsidiária da Petrobras, forneça biodiesel para testes de motores a diesel. O encontro aconteceu em Brasília, com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio). As entidades têm pressa para que esses testes ganhem ritmo, porque são fundamentais para validar o uso de biodiesel no diesel de petróleo acima dos atuais 8%, instituídos em março deste ano. Por exemplo, em patamares mais elevados, como B10, B15 e B20. “O Brasil será um exemplo de como o governo e a iniciativa privada podem trabalhar juntos para o desenvolvimento do País”, disse Coelho Filho durante o encontro.

O acordo é uma resposta aos produtores de biodiesel, que vinham reivindicando o aumento para 9% na mistura ainda neste ano. Mas o governo já sinalizou que não voltará atrás do que foi determinado pela Lei 13.263, de 2016, na qual se estabeleceu que a partir de março a mistura deveria conter o mínimo de 8% de biodiesel, e somente um ano depois subir para 9%, chegando em 10% em março de 2019. Segundo Plínio Nastari, membro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão de assessoramento do presidente da República para formulação de políticas e diretrizes de energia, e presidente da consultoria Datagro, havia um pleito dos produtores de biodiesel para aprovar o B9 para o mês de setembro. “Mas já no pleito se viu que não haveria tempo hábil”, diz Nastari.

USINAS EM ALTA: a previsão é processar 4,4 bilhões de
litros do combustível renovável neste ano, 16% acima de 2016

Para os produtores, o aumento para B9 ainda neste ano estimularia a produção imediata do biocombustível. A estimativa de produção para 2017 é de 4,4 bilhões de litros de biodiesel, ante os 3,8 bilhões de litros em 2016. Mas, no ano passado, a capacidade instalada autorizada a operar comercialmente já era de 7,3 bilhões de litros, o que significa uma ociosidade no setor da ordem de 2,9 bilhões de litros. Segundo a Ubrabio, cerca de 15 unidades produtoras estão paralisadas. A ociosidade no setor tem sido da ordem de 50% nas últimas safras. Por isso as lideranças querem pressa nos testes. Para Erasmo Battistella, presidente da Aprobio e CEO da BSBios, empresa com sede em Passo Fundo (RS), que processa 216 milhões de litros de biodiesel derivado da soja, o setor está preparado para antecipar até o B10, caso o governo decida por essa política. “O governo precisa avaliar a cadeia como um todo, já que há um pedido enfático das distribuidoras, principalmente, as ligadas ao Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes, de passar direto ao B10 em 2018”, afirma Battistela. “O consumo de diesel no Brasil caiu 20% nos últimos dois anos e continuamos importando diesel. Isso mostra que o Brasil não é autossuficiente. Essa dependência reforça a importância de maior produção de biodiesel.”

“Continuamos importando diesel. Isso mostra que o Brasil não é autossuficiente” Erasmo Battistella, presidente da BSBios (Crédito:JOÃO CASTELLANO/AG. ISTOÉ)

De acordo com Donizete Tokarski, diretor-superintendente da Ubrabio, seria conveniente estabelecer uma escala ao longo dos anos. “Uma escala na qual se estabelecesse o B11 ou B12, em 2019, e seguir aumentando”, afirma ele. “Uma escala com previsibilidade para que os segmentos fiquem confortáveis com a ampliação da mistura.” Desde o início do ano, o Brasil vem importando cerca de um bilhão de litros de diesel, por mês. As projeções da Ubrabio mostram que elas serão recordes neste ano. Em 2016, o País consumiu 54,2 bilhões de litros de diesel de petróleo, dos quais 7,9 bilhões foram importados.

“O Brasil será um exemplo de como o governo e a iniciativa privada podem trabalhar juntos” Fernando Coelho Filho,ministro de Minas e Energia (Crédito:Marcelo Camargo/Ag.Brasil)

Além de favorecer a balança comercial, por diminuirmos a dependência à importação de diesel, aumentar a produção de biodiesel vai em linha com os compromissos do País, assinados nos pactos sobre o clima, como o Acordo de Paris, e ratificados pelo RenovaBio. Paula Regina Gomes Cadette, diretora financeira da Granol, empresa que no ano passado faturou R$ 3 bilhões com o processamento de 340,4 milhões de litros, esse ganho precisa ser colocado na conta do setor. “O biodiesel é uma oportunidade ao País para diminuir a poluição ambiental”, afirma Cadette. “O diesel renovável emite até 70% menos gás carbônico que o óleo diesel.” A Granol, uma das maiores do setor, com 1,8 mil funcionários, possui unidades em Anápolis (GO), Porto Nacional (TO) e Cachoeira do Sul (RS). A capacidade instalada é para produzir 1,1 bilhão de litros por ano.