Seguindo a onda de desenvolvimento de novos biocombustíveis existente hoje em todo o mundo, a Universidade Federal do Tocantins apresentou no dia 28 de outubro uma tecnologia inédita no Brasil para extração de álcool a partir da batata-doce. As operações já começaram em fase experimental, mas sabe-se desde já que o álcool obtido é mais puro que o da cana-de-açúcar, o que permite sua utilização também na indústria farmacêutica e em bebidas,onde o Brasil é importador de matéria- prima.

Sua principal utilização, no entanto, deverá ser mesmo como combustível. De olho nisso, os técnicos da UFT já produzem o álcool de batata-doce totalmente dentro dos padrões da Agência Nacional do Petróleo. O produto já vem inclusive sendo utilizado para abastecer os veículos da universidade.

A idéia de um álcool a partir da batata não é nova. Desde os anos 70 muitos pesquisadores já buscavam desenvolver um combustível dessa forma, mas sempre esbarravam na baixa produtividade, o que inviabilizava os projetos. Na época, as batatas rendiam apenas 12 toneladas por hectare. “Hoje temos batatas melhoradas geneticamente, muito mais eficientes. Conseguimos até 60 toneladas por hectare, além de obter um produto com um teor de amido entre 28% e 30%, contra 10% e 12% dos anos 70”, explica Márcio da Silveira, pesquisador da UFT.

Ainda de acordo com Silveira, hoje o álcool de batata-doce é muito competitivo e rende quase o mesmo que o da cana-de-açúcar. Com uma produção de 170 litros por tonelada, contra apenas 80 litros por tonelada da cana, a batata ainda tem a vantagem de ter duas safras anuais, a cada 150 dias. Mas, como a cana rende muito mais por hectare, ainda leva uma pequena vantagem: oito mil litros anuais por hectare, ante 6,3 mil litros/ano da batata.

A diferença é pequena, ainda mais se levarmos em consideração que a tecnologia da cana vem se aprimorando nos últimos 30 anos, mas tende a diminuir anda mais nos próximos anos. “Eu acredito que no médio prazo nós conseguiremos chegar aos 200 litros por tonelada. Isso sem grandes esforços”, continua o professor, lembrando que, diferentemente da cana, a batata ainda pode ser cultivada por pequenos produtores e em solos pobres, como o do cerrado brasileiro.

MÁRCIO DA SILVEIRA: pesquisador desenvolveu um tubérculo com alto teor de amido

“O foco sempre foi a agricultura familiar. A cana é uma cultura muito voltada ao grande produtor. Então começamos a desenvolver a batata. É um ciclo curto, de cinco meses, mas a limitação era a baixa produtividade. Fizemos um melhoramento genético até chegar num material mais desenvolvido em amido, resistência a doenças e pragas e, principalmente, produtividade”, conta.

Outra vantagem do produto é a utilização dos resíduos para a alimentação animal.

Mas, com tantas vantagens, por que o produto ainda não está sendo produzido em escala industrial? Segundo Márcio da Silveira, por falta de apoio do governo federal. “Agora cabe ao governo desenvolver uma política pública. O etanol, há 30 anos, precisou deste apoio, senão não chegaria onde está. Se não tivermos apoio do setor público, a tecnologia não se desenvolve.”

Nicholas Vital, de Palmas