Demorou cerca de três anos de estudos, mas enfim os pesquisadores conseguiram concluir o sequenciamento e mapeamento do genoma do fungo causador da ferrugem asiática, cientificamente conhecido por Phakopsora pachyrhizi. O projeto é inédito no mundo e foi elaborado por um consórcio internacional de cientistas, do qual a alemã Bayer e a estatal brasileira Embrapa fazem parte. “Com a pesquisa, podemos traçar novas linhas para o controle da doença”, diz Dirceu Ferreira Junior, diretor do Centro de Expertise em Agricultura Tropical (CEAT) da Bayer. “Isso pode dar origem a novos agroquímicos e até lançamentos de biotecnologia, como variedades transgênicas.”

O projeto de sequenciamento começou em meados de 2016, e, agora, dá os primeiros resultados com a montagem de três amostras puras do fungo, obtidas de três áreas de produção de soja – uma de Mato Grosso, outra de Minas Gerais e a terceira, dos Estados Unidos. Segundo a pesquisadora Francismar Guimarães, da Embrapa Soja, mais outras 44 amostras isoladas e puras do fungo deverão passar por esse sequenciamento. “O estudo dos três primeiros vai facilitar o trabalho de análise desses próximos”, diz Francismar. “A ideia é descobrirmos quais os genes desses fungos mais mudam para trazer novas soluções de combate à doença.” Segundo a pesquisadora, o causador da ferrugem possui 22 mil genes, com uma estrutura de DNA muito repetitiva.

O projeto está com data para se encerrar dentro e meio, mas já está munindo a classe de cientistas para conseguir conter os efeitos do fungo nos campos. Segundo a Embrapa, o controle da doença custou ao produtor brasileiro cerca de US$ 2,8 bilhões (R$ 10,3 bilhões) na safra passada. Na ponta do lápis, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP), calculou um gasto de R$ 8,3 bilhões com a aplicação de fungicidas na safra 2016/2017. Sendo 96% – R$ 8,0 bilhões – a disso para o controle da ferrugem.

Além da Bayer e Embrapa, compõe o consórcio de pesquisa os americanos Joint Genome Institute e fundação 2Blades; o inglês Sainsbury Laboratory; o francês Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica; e as universidades de Hohenheim e de RWTH Aachen, na Alemanha, de Lorraine, na França, e da Federal de Viçosa, em Minas Gerais.