ESTUFA HIGH TECH: em Gent, na Bélgica, onde novas cultivares são desenvolvidas

Enquanto no Brasil uma série de plantas geneticamente modificadas, já cultivadas em outros países, espera a aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), no centro de pesquisas da Bayer CropScience em Gent, na Bélgica, cientistas tocam projetos que originarão as plantas do futuro. Como apenas 10% das pesquisas resultam em produtos, o número de projetos costuma ser grande. Isso porque, no decorrer do processo, os cientistas selecionam as plantas que mais se enquadram à finalidade proposta e descartam as demais. Para 2015, há 30 projetos em estudos. As pesquisas envolvem algodão, canola, soja e arroz.

Entre as características focadas, estão a tolerância a herbicidas, o controle de insetos, o controle de doenças, o aumento de produtividade e a tolerância ao estresse. No entanto, este último traço tem sido o carro-chefe nos estudos. “As mudanças climáticas vão exigir cada vez mais plantas resistentes à seca para combater o efeito adverso do clima, que se traduz principalmente em redução da produtividade”, explica Michael Metzlaff, cientista sênior e responsável pela coordenação de pesquisas em Gent. Outro objetivo por trás das pesquisas é obter um produto de maior valor agregado. No caso do algodão, fibras de melhor qualidade. No caso da soja e canola, um óleo especial.

 

Para mitigar os efeitos do estresse nas plantas, a Bayer tem duas linhas de pesquisas. A primeira trabalha na parte biológica, tentando melhorar cada dia mais a resistência das plantas, aumentar a estabilidade de produção, permitindo que elas sejam plantadas em áreas de alto estresse hídrico. A segunda linha trabalha com agroquímicos com o intuito de fornecer soluções ao estresse biótico conseqüência de doenças, ervas daninhas e insetos e também ao estresse abiótico aquele causado por seca, salinidade, calor. Este último é o responsável pelas maiores perdas na agricultura moderna, já que as plantas em condições de estresse gastam boa parte da energia para se proteger, o que reflete em uma expressiva redução de produtividade.

No entanto, pesquisadores da Bayer encontraram uma maneira de reduzir a atividade de um gene, o Parp-gene, diminuindo as perdas de energia da planta em situações de estresse. O tempo necessário para se chegar a uma nova variedade varia de 12 a 15 anos e os gastos são de cerca de ? 10 milhões. Não à toa, o centro de pesquisas de Gent recebe por ano ? 40 milhões. Atualmente, os transgênicos representam 60% das pesquisas; os 40% restantes ficam com as plantas convencionais. No entanto, como na Bélgica é proibido o plantio de transgênicos, o material desenvolvido lá segue para testes de campo em outros países. Um exemplo é o algodão Liberty Link, recém-aprovado na CTNBio, cujo teste de campo foi realizado nos EUA há mais de uma década.

 

LONGO PRAZO: o tempo de pesquisa para chegar a uma nova planta varia de 12 a 15 anos

A Bayer CropScience destinará para pesquisa e desenvolvimento na área de biotecnologia ? 250 milhões por ano até 2015. No segmento de defensivos agrícolas, o valor é de ? 500 milhões por ano. Hoje o Brasil é o segundo maior mercado de agroquímicos da Bayer, perdendo apenas para os EUA. “Dependendo do preço das commodities, o Brasil tem boa chance de se tornar o número 1 ainda este ano”, diz Rüdiger Scheitza, membro do conselho administrativo mundial da Bayer. Enquanto o mercado brasileiro de agroquímicos cresceu 50%, as vendas de defensivos da Bayer, segunda maior neste segmento, cresceram 80%. A Bayer também vê oportunidades no setor de arroz brasileiro. “Em milho e soja somos desafiados por nossos competidores que dominam o mercado. Nessas commodities seríamos insignificantes, por isso estamos focando onde temos mais oportunidades”, explica Friedrich Berschauer, presidente mundial da Bayer CropScience.

 

MICHAEL METZLAFF: cientista sênior da empresa está na linha de frente das pesquisas de biotecnologia