Além de surpreender com uma alta de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) já avisou que antevê um novo ajuste da mesma magnitude na próxima reunião, nos dias 4 e 5 de maio. Mantida essa previsão, a taxa subiria novamente dos atuais 2,75% ao ano para 3,5% ao ano.

Segundo os membros do Copom, a prescrição será adotada a menos que haja uma “mudança significativa” nas projeções de inflação ou no balanço de riscos. “O Copom ressalta que essa visão para a próxima reunião continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, e das projeções e expectativas de inflação”, afirmou em comunicado.

Na decisão de hoje, o cenário básico para a inflação analisado pelo Banco Central apresentava “fatores de risco em ambas as direções”. De um lado, o agravamento da pandemia pode atrasar o processo de recuperação econômica, levando à inflação a uma trajetória abaixo do esperado, reconheceu o BC.

De outro, o prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que represente piora na trajetória fiscal do País ou frustrações em relação à continuidade das reformas podem elevar os prêmios de risco. “O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, alertou o BC.

Na justificativa de sua decisão, o comitê informou que a elevação da Selic a 2,75% é reflexo da combinação entre o cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva. Na avaliação do BC, a decisão “é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, principalmente, o de 2022”.

O Copom ainda ressaltou que “perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”. Segundo o BC, questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Nas últimas semanas, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, se envolveu diretamente em discussões políticas para evitar a desidratação da PEC emergencial, principal aposta da equipe econômica para sinalizar sustentabilidade das contas públicas. A proposta, já promulgada, inclui gatilhos de contenção de despesas.