Todos os dias, desde 13 de março, o ex-cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, hoje papa Francisco, toma pela manhã um legítimo cafezinho orgânico brasileiro, do tipo premium, com pelo menos 85 pontos na escala da Sociedade Americana de Cafés Especiais. Mas foi o alemão Joseph Aloisius Ratzinger, o papa Bento XVI, antecessor de Francisco, o primeiro dos 266 pontífices a louvar a excelência do café do Brasil entre as quatro paredes do Vaticano. Foi em 2010, depois de selecionar por meio de uma espécie de licitação, que o grão cereja descascado, 100% arábica da Bahia, desembarcou na Itália. Hoje, o Vaticano recebe, por safra, 30 sacas exclusivas do café Natura Gourmet, produzido na fazenda Aranquan, dos empresários Luca Giovanni Allegro e Nelson Cordeiro, em Ibicoara, na Chapada Diamantina. O café é cultivado a 1,1 mil metros, altitude ideal para grãos de qualidade, além de a região ter solo e microclima adequados à produção classificada como especial. “É gratificante saber que o nosso café é apreciado no mundo”, diz Allegro. “Sob as bênçãos do papa então, nem se fala.”

Allegro, que também é juiz sensorial de campeonatos de baristas, certificado por associações brasileiras e pela Associação de Cafés Especiais dos Estados Unidos, exporta café orgânico premium desde 2000. Além do Vaticano, o café baiano é exportado para a Alemanha, Inglaterra, os Estados Unidos e Itália. Na Inglaterra, o Natura Gourmet, torrado pela Hasbeancoffee, foi selecionado pelo famoso chef britânico Jamie Oliver para a sua rede de restaurantes Fifteen, na capital inglesa. No Brasil, a marca é encontrada em Curitiba, São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro e Manaus. Além, claro, da Bahia. Na fazenda, cada etapa da produção é vista como um órgão vital. “Tudo tem de estar em harmonia”, diz Allegro. “O nosso café é cultivado na sombra, em sistema agroflorestal.”

Para João Lopes Araújo, presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia, todo marketing, como esse de o café ser apreciado no Vaticano, valoriza o setor. “Especialmente a Bahia, nesse caso”, diz ele. “Os cafeicultores do Estado estão cada vez mais investindo em produtos diferenciados.” Dos 19 mil produtores baianos de café, mais de 1,5 mil já migraram as suas lavouras para o cultivo do grão orgânico gourmet. O motivo está na ponta do lápis. Enquanto uma saca de 60 quilos do grão convencional é vendida por R$ 350, o produtor de orgânico premium, na pior das hipóteses, recebe R$ 1 mil por saca. “Já chegamos a comercializar uma saca a US$ 2 mil”, diz Araújo. “Tem contribuído muito para a valorização do grão baiano o concurso de qualidade realizado no Estado.”

No ano passado, 11 municípios foram premiados, e os juízes dos Estados Unidos, Coreia e Inglaterra compraram grande parte dos lotes vencedores.