Com a estiagem histórica no Centro-Sul do País e as revisões para baixo nas projeções de produção na safra agrícola de 2021, já era esperada a queda de 2,8% no Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no segundo trimestre ante o primeiro deste ano, como informou mais cedo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas, segundo o órgão, especificidades do cultivo do café pesaram mais do que a crise hídrica.

“A queda no PIB da agropecuária na comparação com o primeiro trimestre Tem um pouco a ver sim com crise hídrica, mas, as principais safras de agora no segundo trimestre seriam soja e café”, afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, lembrando que as comparações do PIB da agropecuária “na margem”, ou seja, ante períodos imediatamente anteriores, são sempre marcadas pela sazonalidade das diferentes culturas.

O destaque negativo nas revisões para baixo nas projeções para a safra agrícola de 2021, tanto do IBGE quanto da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), tem sido a produção de milho. Por causa da seca, a produção de milho pesou negativamente na comparação do desempenho da agropecuária do segundo trimestre com igual período de 2020. Só que essa não é uma cultura de destaque no segundo trimestre – a maior parte da produção de milho no Brasil é colhida no segundo semestre, na chamada segunda safra, que já recebeu, no passado, a alcunha de “safrinha”.

Os campos de café foram fortemente afetados pelo clima, por causa das geadas. Só que também não foi por isso que a produção de café contribuiu negativamente na comparação do desempenho da agropecuária do segundo trimestre com igual período de 2020. Isso porque o ciclo do café é mais longo, passa de um ano. Assim, as safras são marcadas por uma “bianualidade”, ou seja, anos de forte produção são seguidos por anos de produção mais fraca. Este ano é de produção mais fraca – em 2020, a safra de café atingiu recorde histórico.

“O café está na bianualidade negativa, com perspectiva de queda (na produção). Quando comparamos com o primeiro trimestre, que não tem produção de café, a entrada dessa cultura puxa o desempenho para baixo”, diz Rebeca Palis.

Como vêm destacando especialistas na agropecuária, a destruição dos campos de café pelas geadas dos últimos anos afetará fortemente a produção de 2022, que seria ano de bianualidade positiva, ou seja, de produção forte. Isso não impede que haja aumentos de preços, já puxados por meio de movimentos especulativos nas negociações internacionais, já que o café é uma “commodity” facilmente estocada.

No primeiro semestre, especialmente nos três primeiros meses do ano, o principal destaque na sazonalidade agrícola é a soja. A principal cultura da safra nacional de grãos é colhida no início de cada ano. A safra de soja 2020/2021 será recorde, o que puxou a alta de 6,5% no PIB da agropecuária do primeiro trimestre, ante o quarto trimestre de 2020, e o salto de 5,2%, ante o primeiro trimestre de 2020.

Só que, no segundo trimestre, a colheita de soja é menos forte do que no primeiro. Isso já contribuiria para um desempenho menos pujante do PIB da agropecuária, na comparação do segundo trimestre com os três primeiros meses do ano. Ainda assim, a soja, ao lado do arroz, foi destaque na alta de 1,3% do PIB da agropecuária, na comparação do segundo trimestre deste ano com igual período de 2020, informou o IBGE.

“A crise hídrica vai afetar a taxa de crescimento do PIB da agropecuária no ano. Se olharmos o segundo trimestre contra o primeiro, não tem tanto a ver. Se olharmos no ano, é lógico que a agropecuária será prejudicada pelas condições climáticas”, afirmou Rebeca Palis.

Embora a maior parte do efeito da produção da soja entre no PIB do primeiro trimestre, a supersafra do grão teve contribuição positiva, no segundo trimestre, em outro componente da economia, as exportações.

Segundo Rebeca Palis, as vendas recordes de soja, que têm na China seu principal destino, tiveram “impacto relevante” na alta de 9,4% nas exportações no segundo trimestre ante o primeiro, na maior alta nessa base de comparação desde o primeiro trimestre de 2010, quando o crescimento foi de 10,9%. Na comparação com o segundo trimestre de 2020, as exportações saltaram 14,1%, a maior alta nessa base de comparação desde o primeiro trimestre de 2004.