Uns dos homens mais ricos do mundo, o dono

da Microsoft pretende promover uma revolução

verde no continente para combater a fome

KNOW-HOW BRASILEIRO: executivos contratados por Gates defendem uma parceria com a Embrapa para atuar na África

Um dos lugares mais pobres do planeta Terra, a África sempre foi alvo de inúmeros projetos sociais, mas agora está prestes a receber uma ajuda que pode ser definitiva. Um dos homens mais ricos do mundo, Bill Gates, fundador da Microsoft, vem recrutando especialistas dos cinco continentes para um ambicioso projeto que visa fazer uma “revolução verde” e acabar com a fome na África. O empresário norte-americano, que já doou boa parte de sua fortuna pessoal à sua fundação assistencial, a Bill & Melinda Gates Foundation, destinou nada menos que US$ 150 milhões ao projeto. A intenção de Gates é tratar o solo africano e desenvolver sementes de boa qualidade, que se adaptem ao clima africano, e assim ajudar no desenvolvimento dos pequenos agricultores da região.

O empenho é tanto que a Bill & Melinda Gates Foundation vem publicando até anúncios de emprego nas principais revistas do setor no mundo, oferecendo centenas de vagas de trabalho em Gana e no Quênia, onde fica a sede da entidade. E é justamente aí que entra o Brasil. Altamente especializados e acostumados a lidar com o clima tropical, os cientistas brasileiros devem ter grandes chances de ficar com as vagas.

De acordo com o executivo Joseph DeVries, responsável pelo projeto, já existe inclusive um contato inicial com a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – para uma ação conjunta contra a fome. “Queremos encontrar uma forma eficiente de acabar com a fome e vamos fazer isto juntos. Temos uma grande área disponível para a agricultura e vamos utilizá-la para a plantação de itens básicos, como arroz, milho, soja, entre outros”, explica DeVries.

A Embrapa, por sua vez, já conta com um escritório de transferência de tecnologia em agricultura tropical funcionando na cidade de Accra, capital de Gana, onde vários pesquisadores brasileiros já trabalham no desenvolvimento da agricultura africana, também com prioridade para os alimentos básicos.

“Eles querem nosso knowhow”, revela José Borges Mendes, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, que já vem organizando um trabalho parecido na África, mas na área da pecuária. O executivo conta que foi procurado por membros do governo de Angola para ajudar na reformulação de todo o plantel do País, considerado pouco produtivo.

US$ 150 MILHÕES é o investimento inicial feito pela fundação dirigida por Bill Gates

O primeiro passo foi a compra de mais de cinco mil cabeças de gado puro de origem, das raças nelore, brahman e guzerá, que já tiveram uma adaptação perfeita na África, mas o trabalho é ainda maior. “Eles devem comprar mais animais, por isso querem uma parceria na parte técnica, para formação de pessoal. Somos referência internacional no assunto. Estamos até estudando a possibilidade de criar uma ABCZ internacional em Angola”, explica Borges Mendes.

Outro setor que pretende investir na África é o sucroalcooleiro.

Ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan também está envolvido no projeto contra a fome em Gana e no Quênia

Com a demanda por álcool em alta e com áreas cada vez menores à disposição, a Petrobras anunciou que deve iniciar em breve a produção do etanol do outro lado do Atlântico. A intenção da estatal, no entanto, não é ajudar no desenvolvimento africano, mas sim poupar o Brasil de um “apagão” agrícola num futuro não tão distante.

“A expansão do etanol não pode prejudicar os cultivos agrícolas no Brasil. Assim, deverá voltar-se para outras regiões que tenham grandes superfícies de terras, como, por exemplo, o continente africano”, afirmou recentemente Nestor Cerveró, diretor de operações internacionais da Petrobras.