O Ibovespa chegou a testar a marca dos 100 mil pontos na manhã desta quinta-feira, 9, em movimento antecipado ontem pelos futuros, mas acabou se inclinando a nova trava nos lucros, em dia misto em Nova York, onde a demanda por ações de tecnologia manteve o Nasdaq em máximas históricas, em alta na sessão, enquanto Dow Jones e S&P 500 fecharam no vermelho. Por aqui, o índice de referência da B3 encerrou em baixa de 0,61%, aos 99.160,33 pontos, após ganho de 2,05% no dia anterior, que o havia deixado bem perto da linha psicológica dos 100 mil, perdida no início de março.

“Houve ruídos políticos nesta semana, com o Maia contrariando a visão do Guedes sobre privatizações este ano, no momento em que o governo busca alternativas para melhorar a arrecadação e encontrar alguma alternativa que contribua para readequar o fiscal, como tributação de dividendos e a volta da CPMF, ideias que não agradam”, diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus. “Com o dia negativo lá fora, e aproximação do fim de semana, a cautela acaba prevalecendo, até porque a realização (de lucros) tem sido pouca.”

Para Laatus, o caminho para os 100 mil já está pavimentado, tendo em vista a disponibilidade de liquidez, mesmo com o investidor estrangeiro voltando a sacar recursos da B3 neste começo de julho após o mês anterior ter sido o primeiro de ingresso líquido desde setembro de 2019. “Já tem fundo no Brasil fechado para captação, tamanha a disponibilidade de recursos. A migração da renda fixa para a variável continua a prover fluxo para a Bolsa, mesmo com a retração do estrangeiro”, acrescenta.

“O fluxo vai continuar impulsionando, com mais força do que os fundamentos, de forma que o viés é no máximo de leve alta, dado todo o cenário. Nossa bolsa não está barata, não tem muito mais ‘upside’, a considerar os fundamentos”, observa Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante.

Na máxima de hoje, o Ibovespa foi a 100.191,24 pontos, maior nível intradia desde 6 de março (então aos 102.230,50), e, na mínima, retrocedeu a 98.860,83 pontos. O giro financeiro totalizou R$ 26,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 2,48% e, no mês, avança 4,32%, cedendo agora 14,25% em 2020. Após o impulso proporcionado ontem pela forte recuperação nas vendas do varejo em maio ante abril, a falta de catalisadores domésticos de peso deixou os movimentos na B3 ao sabor do humor externo, mais cauteloso na sessão, em meio a sinais de que a pandemia de Covid-19 se mantém resistente em estados do Oeste e Sul dos EUA, como a Flórida.

Hoje, os Estados Unidos atingiram novo recorde de casos de covid-19 confirmados em um período de 24 horas: mais 64.771, de acordo com o Centro de Controle de Doenças. Na esfera política, chamou atenção a possibilidade de atrito entre o presidente americano, Donald Trump, e a Suprema Corte, que decidiu que o presidente deve entregar dados financeiros e tributários pessoais à procuradoria de Nova York, em momento no qual o republicano, desgastado pela pandemia e pelo aumento do desemprego nos EUA, encontra dificuldades para tracionar a campanha pela reeleição, em novembro.

Por aqui, o vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal, esteve reunido com representantes de parte dos fundos internacionais que haviam ameaçado sacar recursos investidos no País em razão do avanço do desmatamento. Após o encontro, Mourão disse que os investidores internacionais querem “ver resultados” na área ambiental.

Em dia negativo para as cotações do petróleo (-2,17% para o Brent de setembro), a ação ON da Petrobras fechou em baixa de 2,87%, enquanto a PN cedeu 2,25%. O dia foi de recuo também para Vale ON (-1,57%), assim como para a maioria das ações de bancos (Bradesco PN -2,23%) e de siderúrgicas (Usiminas -2,99%). Entre os componentes do Ibovespa, as perdas do dia foram lideradas por Braskem (-7,02%), à frente de CCR (-4,93%) e TIM (-3,54%). No lado oposto, a ação de Lojas Americanas subiu 10,12%, seguida por Eletrobras PNB (+9,39%) e Eletrobras ON (+8,60%).