O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que a rigor deveria ser o maior exemplo da preocupação com a imunização nacional contra a covid-19, voltou a politizar a vacinação no País, criticou a Coronavac e disse que será último a tomar o imunizante em solo nacional.

“Já que tem tanta gente apavorado para tomar vacina, não é justo o chefe do Estado tomar na frente do cidadão comum”, disse Bolsonaro, que já poderia ter tomado a sua vacina desde o dia 5 de abril, ou seja, há quatro meses.

O presidente voltou a discriminar a vacina chinesa Coronavac, que foi desenvolvida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, como forma de atacar o governador paulista João Doria (PSDB). Bolsonaro disse que vai tomar a vacina “que pode entrar no mundo todo, e não a de lá de São Paulo”. “Eu viajo o mundo todo e preciso tomar a que é aceita pelo mundo todo”.

A vacinação contra a covid-19 foi transformada quase que em um tabu no núcleo duro do governo, devido à postura de Bolsonaro contra os imunizantes. Até mesmo a adoção de medidas básicas de proteção contra a doença, como o uso de máscaras, passou a ser motivo de certo constrangimento dentro do Palácio do Planalto. Funcionários chegaram a relatar receio de usarem máscaras dentro do órgão e serem perseguidos politicamente por causa disso.

Em abril, veio à tona um áudio do então ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, no qual admitia que tinha, inclusive, tomado vacina “escondido”. Ramos disse que fez aquilo por “orientação” e para “não criar caso”.

Sem saber que era gravado, Ramos, que agora está à frente da Secretaria-Geral da Presidência, disse, em reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu), que também tentava convencer Jair Bolsonaro a ser imunizado, porque a vida do presidente está em risco.

“Estou envolvido pessoalmente, tentando convencer o nosso presidente (a tomar a vacina), independente de todos os posicionamentos. Nós não podemos perder o presidente para um vírus desse”, observou o titular da Casa Civil. “A vida dele, no momento, corre risco. Ele tem 65 anos”, disse o general, errando a idade do presidente, que completou 66 anos no mês passado.

Descontraído, ele lembrou que, quando tomou a primeira dose da AstraZeneca, no último dia 18, a informação acabou sendo divulgada. “Tomei escondido, né, porque era a orientação, mas vazou (…). Não tenho vergonha, não. Vou ser sincero: eu, como qualquer ser humano, quero viver. Tenho dois netos maravilhosos, uma mulher linda. Tenho sonhos ainda. Quero viver, porra! Se a ciência, a medicina, está dizendo que é vacina, quem sou eu para me contrapor?”, desabafou o chefe da Casa Civil, que tem 64 anos.