O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC), despacha na mesma sala de quando era vice, adornada com apetrechos do Flamengo, um livro sobre o presidente Jair Bolsonaro e fotos com a família e o Papa Francisco. Alçado ao cargo após o afastamento do Wilson Witzel (PSC), Castro contradiz o antecessor e afirma que não estaria naquela cadeira se não fosse a onda bolsonarista de 2018 – mas nega ser “tutelado”. Para 2022, Castro diz que estará ao lado do presidente. “Bolsonaro é o meu candidato. Gosto dele, acredito nele”, disse, ao receber o Estadão no Palácio Guanabara.

Quase 300 pessoas esperam um leito de UTI no Rio. Não está na hora de adotar medidas mais rígidas de isolamento?

Continuo encarando de uma forma técnica. Recebo o pessoal da Saúde e ainda não me disseram que tenho que restringir mais coisas. Estamos preparando medidas, mas, como foi da última vez, vão ser 100% preparadas com a cadeia produtiva, os prefeitos e a medicina. Cada ato que se toma demora de duas a três semanas para sentir o impacto. Ainda estamos para entender se o que a gente já fez deu resultado ou não.

Mas o modo como o Estado está hoje, em ritmo quase normal, não pode levar a um colapso total daqui a pouco?

Ainda tenho capacidade grande de abertura de leitos em comparação com os Estados vizinhos. O Rio está passando pela terceira onda, somos o único Estado passando por isso. Já temos um aprendizado.

O sr. jantou com o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele está alinhado contra o lockdown e quer seguir na linha de abrir leitos?

Ele pensa assim, tanto que quer abrir aqui cerca de 200 leitos federais, talvez 250. Pelo que entendi da fala do ministro e do Pazuello, que estava junto, é que vai ser uma gestão de continuidade. Muita equipe dele fica.

Isso é bom ou ruim? Pazuello é muito criticado.

Temos que esperar um pouco. É continuidade, mas com um ministro novo. Acho que o Pazuello foi um guerreiro nessa condução.

A conduta do presidente Bolsonaro não atrapalhou?

O País está muito polarizado. Essa polarização, e até o fato de alguns governadores estarem politizando, acaba saindo um pouco do campo da técnica. Olhar só a questão do presidente é uma visão rasa. No Rio temos deixado essa questão de lado – tirando quando o Doria tentou politizar comigo, aí dei uma resposta só e acabei.

Acha que Doria politiza muito o combate à pandemia?

Muito, demais. A questão dele de vacinar antes de todo mundo – os governadores todos, até aliados, bateram nele. De querer ser o dono da vacina. Essa briga visceral com o presidente desde o início. Essa politização e a antecipação de 2022 fazem muito mal ao País.

Fala-se na política do Rio que o sr. é refém da família Bolsonaro. O que acha dessa afirmação?

Falavam que eu ia escolher o candidato bolsonarista para a Procuradoria-Geral de Justiça, mas eu escolhi o mais votado. Que eu não faria medidas restritivas na pandemia, mas fiz… Tenho uma proximidade boa (com a família Bolsonaro), conheço há muitos anos, temos um alinhamento. Ser aliado é uma coisa, ser funcionário é outra. Não sou funcionário de ninguém, e sim do povo do meu Estado. Eu falava que o (senador) Flávio (Bolsonaro, filho mais velho do presidente) nunca tinha me pedido indicação para a PGJ, mas ninguém acreditava. É até uma injustiça com eles. O que eu quero é poder contar com eles.

Do ponto de vista eleitoral, estará com Bolsonaro em 2022?

Bolsonaro é o meu candidato. Gosto dele, acredito nele. Nós estamos aqui por causa da onda bolsonarista, que teve mesmo. Seria um contrassenso não estar com ele, seria um contrassenso se eleger na esteira do Bolsonaro e agora virar as costas. Fomos eleitos por uma gama da sociedade que acreditava naquele modelo. Erros e acertos acontecem sempre, é o processo democrático e político natural. Não tem por que eu não estar com Bolsonaro hoje.

É uma crítica ao Witzel?

Ele tomou as decisões dele. Eu sempre falei que não concordava com a briga. Sempre falei que o Rio precisava muito do governo federal, que a população escolheu um presidente e um governador da mesma linha para dialogarem.

Pelo que se sabe da investigação, acha que Witzel é culpado?

Não falo desse assunto.

O sr. assumiu já sendo alvo de um mandado de busca e apreensão na mesma investigação. Há ainda uma delação no MP local sobre suposta propina em contratos da Fundação Leão XIII, ligada à vice-governadoria…

Aquela delação lida? Que não pode existir? Palhaçada…

O que o sr. fazia no prédio com aquela mochila?

O cara faz uma delação lida… Tinha que cair tudo. Ninguém na imprensa cobra o MP e a Justiça de derrubar uma delação que é flagrantemente ilegal? É um erro de vocês permitir isso para ferrar o político.

O sr. teme ser preso por causa dessas investigações?

Se não tiver nenhuma covardia, zero. No Direito, zero, zero, zero. Não temo mesmo, porque expliquei tudo.

Considerando que é difícil Witzel voltar, o sr. será candidato à reeleição?

Tem muita água para passar debaixo dessa ponte. Tenho que entregar um trabalho. Se entregar, é o caminho natural.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.