O mineiro Geraldo Alvarenga Resende Filho, 67 anos, nasceu em uma família na qual o café da manhã e o café da tarde são as principais refeições do dia. O cheirinho do grão torrado e a mesa posta com diversos tipos de pães, queijos e manteiga são uma tradição centenária na fazenda do presidente da Laticínios Aviação, empresa com sede em São Sebastião do Paraíso, no sul de Minas Gerais. Foi o seu avô paterno, descendente de espanhóis e portugueses, João Ferreira Oliveira Resende, quem iniciou o cultivo de café nas terras que adquiriu nessa região. Mas só agora, 144 anos depois, a família, dona da famosa manteiga que produz com a marca Aviação, decidiu vender no varejo o café que produz. O nome, claro, não poderia ser outro: café Aviação. “Vendíamos o grão para o mercado interno e externo, por meio de cooperativas”, diz Resende Filho. “Agora, vamos industrializar o produto que será torrado, moído, embalado e vendido nos supermercados em que já estamos presentes com a nossa marca de lacticínios.” 

A decisão faz parte da estratégia de diversificação do portfólio da Aviação. Tudo começou há duas décadas, época em que o processo de fabricação de derivados de leite, como manteiga, doce de leite, queijo e achocolatados era artesanal. Com o tempo e investimentos em maquinário, o processamento dos produtos ganhou escala industrial. Atualmente, são produzidos 830 mil quilos de derivados de leite por mês. “No caso do café, muitos de nossos clientes, ao saberem que também somos agricultores, pediam que processássemos o grão”, diz Resende Filho. “Há cinco anos estamos amadurecendo a ideia e agora chegou o momento.” 

A fazenda Aviação possui uma área cultivada de 400 hectares com 1,2 milhão de pés de café. A depender do clima, a produção oscila de 15 mil sacas a 20 mil sacas de 60 quilos, por safra. Com a marca própria, a empresa estima que venderá mensalmente até quatro mil sacas do produto processado, o que demandará a compra de café de outros produtores da região. “Vamos escolher os grãos que se encaixarem na nossa classificação de qualidade”, diz Resende Filho. Ao todo, foram investidos R$ 700 mil para conseguir levar o produto da plantação às gôndolas dos supermercados. Apesar do baixo investimento, o retorno deve ser alto. A expectativa é incrementar com a venda do café Aviação em até 20% a receita da empresa, que alcançou R$ 151 milhões no ano passado. 

Inicialmente, a distribuição será focada no mercado de São Paulo, mas o objetivo é expandir a oferta do produto a todo o País. No momento, os processos de torração e moagem estão sendo feitos por um parceiro local, porém existe a possibilidade de que a própria Aviação invista em maquinário para processar o café internamente. “Não descartamos evoluir nesse mercado, atendendo redes de cafeterias e vendendo o produto em outros formatos, como sachês”, diz. Segundo ele, a ideia é disputar o mercado premium. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o consumo do café gourmet cresce cinco vezes mais que o do tradicional, em média. Enquanto o café comum cresce 3% ao ano, os da categoria superior avançam 15%. Na média, cada brasileiro consumiu 4,8 quilos de café torrado no ano passado, o equivalente a cerca de 80 litros da bebida. O País é o segundo maior consumidor de café do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. De olho na tradição, desde o ano passado, a Aviação começou a arquitetar um projeto para abrir lojas chamadas Casa da Manteiga, com o objetivo de vender seus produtos diretamente ao consumidor. Atualmente, já existe um piloto em operação, em frente à fábrica, pronto para ser replicado. “Um dos principais benefícios da nossa marca é essa nostalgia que as pessoas têm de uma manteiga caseira”, diz Resende Filho. “Afinal, a Aviação já completou 90 anos no mercado.” Agora, chegou a vez do cafezinho.