Gosto é gosto, não se discute. Este velho ditado vale também para o café. Durante o Taste of Harvest, evento promovido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (Bsca) em dezembro passado, em Paraty, um grupo de 10 compradores estrangeiros veio ao Brasil provar os melhores grãos colhidos na última safra. Os lotes escolhidos – todos com nota acima de 80 – passaram por uma pré-seleção feita por Silvio Leite, especialista em café do País e presidente do júri do Cup of Excellence, a principal competição do mercado gourmet. Os participantes provaram no primeiro dia, repetiram o teste no segundo e fizeram suas escolhas. No entanto, como compradores, suas opções estão muito relacionadas ao tipo de café que agrada ao paladar de seus conterrâneos. “Para o nosso consumidor, o café não precisa ter tanto corpo. Eles preferem algo mais refrescante”, explica Stephen Leach, vice-presidente da Diedrich Coffee, uma torrefadora e distribuidora de café norte-americana.

Na Austrália, o costume é diferente. O país não tem tradição em tomar café, já que a bebida do dia-a-dia é o chá. “Lá, a cultura é do café com leite. No caso, usamos o espresso e ele precisa ter corpo para aparecer no leite”, diz Scott Mckerrell, diretor de qualidade da Gloria Jean’s, rede de cafeterias com 420 lojas em solo australiano. Em sua primeira visita ao Brasil, Mckerrell veio com um objetivo certo: escolher bons cafés naturais certificados pela Rainforest Alliance. No caso do grupo de japoneses, eles vieram acompanhados por Hidetaka Hayashi, um consultor que desde 1965 vem ao Brasil comprar café. Segundo ele, enquanto o consumo de cafés convencionais no Japão está decaindo, os grãos de alta qualidade com certificação estão em curva de ascensão. “Mas certificação não é garantia de qualidade, estamos em busca de um café que tenha as duas características”, diz Hayashi, lembrando que o japonês gosta de uma bebida com acidez e doçura balanceadas. A empresária Yuko Yamada Itoi é uma das compradoras. Dona de uma torrefadora no Japão, ela começou a importar diretamente dos produtores brasileiros em 2002. Compra para ela e para um grupo de microtorrefadores japoneses.

ESCOLHA MINUCIOSA: da esquerda para direita, Psomas, Hayashi, Mckerrell e Leach. Compradores de café, eles tinham uma missão em comum: escolher os lotes que resultarão em uma bebida única

Outra história curiosa é do grego Nikos Psomas. Em um país em que a cultura é tomar café à moda árabe, ele tem tido ótimos resultados, vendendo cafés especiais. “Os gregos apreciam o corpo e a doçura da bebida”, diz. Atualmente sua empresa, a Mokka Speciality Coffee, importa nada menos que dez contêineres por ano. No entanto, seu ingresso ao mundo dos cafés de alta qualidade foi por acaso. Um dia, acessando a internet, ele descobriu o site da Bsca. Mandou um e-mail, querendo comprar dez sacas. Mas a quantidade era pequena e não compensaria o preço do frete. A diretoria da associação passou o endereço de um distribuidor na Europa e deixou o convite para ele conhecer os cafezais brasileiros. Psomas acatou a idéia e veio ao Brasil pela primeira vez em 1999. Começou comprando 50 sacas e hoje importa 3 mil sacas para a venda no atacado e varejo.

“Os gregos apreciam o corpo e a doçura do café brasileiro”

NIKOS PSOMAS, empresário grego

Acostumados a arrematar – via leilão – os lotes premiados do Cup of Excellence, os compradores foram apresentados a um novo modelo de negócio. No Taste of Harvest, eles provam, escolhem seus cafés e a negociação é feita cara a cara com o produtor. A intenção é aproximar os dois lados e criar um novo formato, pois o Cup é extremamente caro e nos últimos anos estava atraindo sempre as mesmas pessoas. “A idéia é aprender com o Taste of Harvest para neste ano fazer um evento maior e chamar outros possíveis compradores”, diz Gabriel de Carvalho Dias, presidente da BSCA. De qualquer forma, independentemente da nacionalidade do comprador, quando o assunto é espresso, eles são unânimes em dizer que não há como fazer um bom espresso sem o café brasileiro.