O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso empolgado na última semana de agosto em defesa do caju, durante o lançamento do programa de estímulo ao consumo da fruta. Com a veemência tradicional, Lula apontou o que chamou de injustiça histórica contra o caju, argumentando que a polpa também deveria ser consumida – não só a castanha.

O presidente está certo ao evitar que um pseudofruto com tantas qualidades como a polpa de caju seja discriminado de maneira tão injusta e cruel. Mas ao mesmo tempo Lula cometeu um erro grave. Em seu discurso lisérgico, repleto de sofrimento pelo fruto, Lula fez uma descoberta inacreditável. Lula descobriu que o caju existe.

A polpa que dá nome à fruta é na verdade um pedúnculo floral e piriforme. Ou seja, não é fruta. Não que haja algum mal nisso. Afinal, é só uma classificação técnica. Pode ser gostoso ou amargo, cheio de cica de colar a boca. Mas, ao contrário do que disse o presidente, o caju está em tudo no Brasil, como, aliás, sempre esteve. Inclusive na mesa do brasileiro: em forma de suco ou de refrigerante, como a cajuína. E também como bebida alcoólica. Lembre-se, por exemplo, do inesquecível drinque criado por um garçom em 1955, o “caju amigo”, nome pelo qual ficou eternizada a bebida do bar Pandoro, em São Paulo – na receita original tinha gin (depois vodca), suco de caju, um caju maduro espremido e coado, soda limonada, gelo moído e açúcar. E quando o assunto é mesa, também o caju diz presente nas festinhas infantis, o singelo cajuzinho.

E não pára por ai. Na música brasileira há cajus por todos os lados. Seja na Cajuína, belíssima música de Caetano Veloso (“Existirmos, a que será que se destina”), ou num dos hits de Tim Maia, Do leme ao pontal” (“tomo guaraná, suco de caju”). Mas também no nome da mais famosa dupla de embolada, Caju e Castanha, que num único título guarda tanto a polpa quanto a fruta, com seu humor nordestino de primeira grandeza. E só para dar um exemplo no futebol, ficamos com o ex-jogador da copa de 70 e 74 Paulo Cesar Caju – este caju por conta do cabelo tingido de vermelho.

Essa coisa de o presidente Lula estimular o consumo de caju pode trazer problemas para o Ministério da Saúde e o SUS (Sistema Único de Saúde) se de fato a fruta for alçada à condição de alimento nacional. Desde a época dos índios, e lá se vão 500 anos, o caju é tratado pela patuléia como estimulador da libido. E, se for verdade, o melhor é o presidente Lula preparar logo um discurso sobre um possível aumento da natalidade e os males do caju às finanças públicas.