O camarão-d’águadoce é um crustáceo tão exótico quanto desconhecido. Muitas vezes confundido com a lagosta, por causa do seu tamanho, ainda é pouco consumido no mundo. Estima-se que a produção global não ultrapasse 450 mil toneladas por ano, volume equivalente a 20% da produção total de camarão marinho. Entre os atuais produtores, há quem acredite em um futuro promissor para a carcinicultura de água-doce.

No Brasil, a criadora Maria Aldeide Borges, dona do Entreposto de Pescados São Pedro, em Prata, no sul de Minas Gerais, é a única a ter o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para o abate de camarão-d’águadoce, emitido pelo Ministério da Agricultura. “Ter o selo do SIF é condição fundamental para vender o crustáceo para todo o País e até exportar”, diz a criadora. Mas Maria Aldeide, que abate o crustáceo com SIF desde 2002, vinha tendo um sério problema na produção. Os camarões que ela engordava para o abate eram comprados de terceiros, e aí estava o seu drama: por não ter um laboratório para produzi-los desde o início do processo de criação, ela era passada para trás por comerciantes desse setor. “Já cheguei a comprar 200 mil crustáceos na fase chamada de pós-larva e quando fui checar a carga havia 75 mil”, diz Maria Aldeide. “A quantidade combinada na compra e a contagem que eu fazia depois, nunca batiam.”

O que era um limão, a produtora transformou numa limonada. Em vez de jogar a toalha na queda de braço com os produtores de pós-larva, Maria Aldeide resolveu disputar mercado com eles, além de abastecer seu próprio criatório. A criadora está investindo R$ 250 mil no negócio, dos quais R$ 200 mil são para a construção de um laboratório destinado a criar o camarão desde o estágio de larvas.

Do total do investimento necessário à sua independência, Maria Aldeide financiou R$ 150 mil através de linhas de crédito junto ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), com sede em Belo Horizonte. A previsão é inaugurar o laboratório no segundo semestre do ano. “Com a produção do camarão desde o estágio de larva terei pleno domínio do processo de criação em água-doce e posso vender o excedente do laboratório”, diz. “É uma vitória.” O laboratório do entreposto de pescados terá capacidade para produzir até um milhão de pós-larvas por ano. “Hoje, compro 600 mil pós-larvas por ano”, diz Maria Aldeide. “Aumentando a produção quero trabalhar para que o entreposto cresça ainda mais.”

Além do laboratório, até o começo de 2014 a criadora fará um rearranjo nos 21 viveiros de engorda do crustáceo para transformá-los em 27 viveiros. Atualmente, com 5,6 hectares de lâmina d’água, a produção anual do entreposto é de quatro toneladas de crustáceos. Com a reforma, a produção pode ir para dez toneladas. “Eu acredito no negócio porque o camarão-d’água-doce traz menos degradação ao meio ambiente que o camarão marinho, além de obter um produto mais saboroso e saudável”, diz Maria Aldeide. Segundo pesquisa realizada pela Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, o camarão-d’água-doce tem 30% menos colesterol, se comparado ao camarão marinho. Sem contar que para pescar um quilo desse tipo de camarão, outros seis quilos de organismos marinhos são mortos acidentalmente. “O camarãod’água-doce tem qualidades para conquistar o consumidor”, diz a criadora que, além de empresária rural, é dentista desde 1970. Nos supermercados e peixarias, um quilo de camarão-d’água-doce pode custar até R$ 30.