Criados há 15 anos, os Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs) se tornaram um dos produtos preferidos dos investidores de varejo. Hoje, são mais de 3 milhões de pessoas alocando recursos em ofertas do tipo, que já superam R$ 100 bilhões, de acordo com dados da XP. Seguindo a experiência positiva, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) criou a regulamentação para um tipo de investimento semelhante, mas com foco no agronegócio. Trata-se dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas da Agroindústria (Fiagro), cujas ofertas já podem ser listadas na B3, a bolsa de valores brasileira, desde o início de agosto. As primeiras emissões já apontam uma captação de R$ 1,4 bilhão, mas o valor pode superar R$ 3 bilhões com a chegada de novas ofertas que já estão em preparação.

VARIEDADE Ofertas já listadas incluem opções de investimento em terras agrícolas (Crédito:Wenderson Araujo)

Há um clima de otimismo generalizado em relação ao sucesso do Fiagro. Um dos motivos de empolgação dos analistas do mercado é a base regulatória já bastante conhecida dos investidores por conta da popularidade dos FIIs. Na prática, o funcionamento de ambos é semelhante. Os fundos são destinados a captar recursos que podem ser usados para investimentos em imóveis ou em atividades do setor agrícola. Uma vantagem é que eles podem ser compostos por ativos imobiliários como CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), outra ferramenta que vem ganhando relevância. “O Fiagro vem para quebrar uma barreira de entrada muito grande”, afirmou o advogado e professor Renato Borelli. “Quem gosta do agro, que vê o setor como mola propulsora da economia, vai poder comprar uma cota do fundo. Vai democratizar o acesso”, disse.

“Vamos desenvolver estruturas muito sólidas em um mundo quase infinito de possibilidades. Posso adiantar que isso é só o começo” Leonardo Zambolin, BTG Pactual (Crédito:Divulgação)

Os benefícios serão sentidos também por quem trabalha no campo. “Em um cenário em que o produtor está buscando o mercado de capitais, o Fiagro oferece uma nova fonte de financiamento”, afirmou Fabiana Perobelli, superintendente de Relacionamento com Clientes Brasil da B3. Esses recursos também serão destinados a modernizar a infraestrutura envolvendo toda a cadeia de produção de alimentos. No caso dos FIIs, muitos empreendimentos surgiram graças à captação dos fundos, e um movimento semelhante deve acontecer no agro.

A regulamentação sólida, o interesse crescente dos investidores pelo agronegócio e o potencial do Fiagro como fonte de recursos para o produtor são grandes vantagens. Mas é preciso atenção para garantir o bom desempenho desses fundos. “O mercado imobiliário e o agronegócio são muito complicados estrutural e tributariamente”, disse Nicolás Merola, analista da Inversa. “Um bom gestor de um FII precisa conhecer bem tanto o mercado de capitais quanto o mercado imobiliário”, afirmou. Segundo ele, não é fácil encontrar esse perfil de profissional. No caso do agronegócio, há uma camada adicional de dificuldade, por conta do próprio ciclo produtivo do setor. Mas com a aproximação do campo com a Faria Lima, essa especialização é uma questão de tempo.

Mesmo antes da regulação do Fiagro, fundos imobiliários relacionados ao agro já haviam sido lançados na B3

CADEIA Com o Fiagro será possível investir os recursos em infraestrutura (Crédito:KoliadzynskaIryna)

Demanda A necessidade por alternativas de crédito era tanta que mesmo antes da regulamentação do Fiagro outros fundos imobiliários dedicados ao setor já haviam sido lançados. O BTG Pactual colocou no mercado o Fundo de Investimento Imobiliário BTG Pactual Agro Logística (BTAL11), que captou R$ 625 milhões e conta hoje com 12 mil cotistas. “Começamos pela cadeia de logística e infraestrutura, ainda pouco atendida pelos grandes bancos”, afirmou Leonardo Zambolin, sócio do BTG e gestor do portfólio agro da instituição. No final de julho, o banco lançou um segundo produto, o BTG Pactual Terras Agrícolas (BTRA11). Como o próprio nome indica, o foco é em propriedades rurais. Em pouco menos de um mês, o fundo captou R$ 350 milhões e conta com 14 mil cotistas. “Vamos desenvolver estruturas muito sólidas em um mundo quase infinito de oportunidades”, afirmou Zambolin. “Posso adiantar que isso é só o começo.”